anunciação
Não é possível olhar o alto
Se o ar ao redor está todo preenchido
O espaço pode ser este lugar sufocante
Nomeado
Mas não reconhecido
Não é fácil perceber o gosto
Se o que nos cabe é um pedaço ressequido
Sem a presença de um todo
Que nos faça acreditar
Não é prudente adormecer no caminho
Precisamos chegar e registrar o nome
Para que haja uma verdade momentânea
Da partida
Do motivo
Da carne viva
Não é comum os sons perderem a validade
Música esta que canta este tempo
Em que à memória parece ruído
Não é errado esconder-se
Da figura insana
Do momento não aguardado
Da convocação que não admite recusa
Mas não é prudente ausentarmo-nos
Todos os nossos sentidos são necessários
Mesmo que não haja espaço
Nem esperança
Nenhum movimento
Mesmo sem a tua companhia
Com a qual era fácil conseguir encontrar
sombras
A sombra que está fora de mim
Desaparece
No sol poente
Na tempestade
Quando anoitece
A sombra que está dentro de mim
Desperta
Na lembrança insistente
No medo sem nome
E sempre quando anoitece
súplica
O teu colo já foi meu
Teu abraço a minha defesa
Os teus lábios o meu gozo
As tuas histórias minha memória
Meu corpo ainda é teu
Todas essas coisas
Teu lugar na cama
À mesa
Aguardo esta vida humana
Para que a promessa de eternidade
Posta em palavras há tempos
Prevaleça
E possamos ser o Antes
Flavia Ferrari, de Santana de Parnaíba-SP, é poeta e professora. Escreve contos infantis desde 2014. Começou a publicar seus poemas em 2020, no início da pandemia, mas a escrita esteve presente em sua vida desde a adolescência. Teve poemas publicados pelo Toma Aí Um Poema, Escrita Cafeína, Editora Trevo, Projeto Enluaradas e Revista Literária Pixé. É autora do livro Meio-Fio: Poemas de Passagem (Editora Toma Aí um Poema, 2021).