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ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a décima. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

O relato de um forasteiro

Rio de Janeiro, 18 de julho de 2020.

Eu vi uma águia com cabeça de leão usar suas garras para submeter caprídeos, enquanto sete vitelas se agachavam em adoração, aos olhos de Ningirsu, deus de Lagash. Eu vi um vaso feito com uma única folha de prata, e que um dia pertencerá ao sultão Abd-ul Hamid. Eu vi outro personagem que usava uma barba bem trabalhada, na qual faixas ondulantes terminavam em garbosas espirais. Um par de cornos enfeitava o seu capacete, conferindo-lhe status divino. Eu vi Bactrio vestindo-se apenas com uma tanga. Trazia ele uma grande cicatriz no rosto, que ia da testa ao queixo. A barba curta estava aparada com esmero. O corpo era coberto de escamas de cobra desenhadas. Baianas bactrianas de uma região norte afegã dançavam. No horizonte, uma montanha com picos brancos. Nela vivia um gênio alado, cuja cabeça era de ave de rapina. Em Lagash diziam que era ele quem tocava a flauta para chamar a deusa, que vinha ao seu encontro montada num dragão unicórnio. Mas a deusa-mãe neolítica com suas formas generosas seria agora passado. Marinheiros intrépidos contavam histórias sobre o seu aprisionamento nos mares exteriores. Rabo de peixe em corpo feminino. Cantos lamurientos. Promessas. Despojos de guerra. Eu vi Hamurabi usar um gorro redondo, próprio da realeza, no momento em que se ajoelhava e colocava a mão direita à frente da boca — em sinal de devoção, diante do novo deus, solar, que se fazia agora presente, sentado em um trono envolto em chamas. Eu vi duas sacerdotisas, nuas, agachadas frente a frente, cabeças raspadas, preparando-se para as oferendas do dia. Bacias com grãos e pequenos altares rodeavam-nas, e também louças em alabastro, caixas de pó de arroz, baús em faiança policromada, utensílios em cornalina, folhas de ouro e marfim; em breve, elas fariam amanhecer… Eu vi tudo isso e, como Assurbanipal em seu carro da vitória, retornei para casa. Trouxe comigo esses e muitos outros instantâneos da Humanidade. São eles, os homens, supersticiosos e vis, mas de extraordinária beleza.

CITAÇÃO

“Conta Valéry que certa vez o pintor Degas se queixou a Mallarmé de ter perdido o dia na vã tentativa de escrever um soneto. ‘No entanto’, acrescentou, ‘não são as ideias que me faltam… Tenho-as até demais.’ Ao que o mestre respondeu: ‘Mas, Degas, não é com ideias que se fazem versos: é com palavras.’ Para Mallarmé, como para todo verdadeiro poeta, a poesia se confunde com a linguagem, e, como explicou Valéry, é linguagem em estado nascente.” (Manuel Bandeira, p. 61, Seleta em prosa e verso: organização, estudos e notas de Emanuel de Moraes. 2 ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1975)

POESIA

NOVA POÉTICA
(de Manuel Bandeira, p. 96, Seleta em prosa e verso: organização, estudos e notas de Emanuel de Moraes. 2 ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1975)

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito
_______________[bem engomada, e na primeira esquina
_______________[passa um caminhão, salpica-lhe o paletó
_______________[ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens
______________________________[cem por cento e as amadas que
______________________________[envelheceram sem maldade.

DICAS DE LEITURA

1. A aceleração da História e o vírus veloz, texto do psicanalista e ensaísta Tales Ab’Sáber, no site n-1 Edições.

Link: https://n-1edicoes.org/098

2. “Não estamos entrando em recuperação econômica e o próximo colapso financeiro está chegando”, por Grace Blakeley, na revista Jacobin.

Link: https://bit.ly/jacobin_colapso

3. Entrevista com o professor titular de literatura comparada da Uerj João Cezar de Castro Rocha sobre o bolsonarismo e guerra cultural, para a Agência Pública.

[TRECHO] “A Doutrina de Segurança Nacional de eliminação do inimigo interno está sendo levada com uma seriedade que nem a ditadura militar teve. Ou nós paramos essa sanha de destruição, ou o mesmo vai acontecer em todas as áreas. […] Nós vivemos hoje a iminência, um risco sério de um golpe autoritário, que será mais violento que a ditadura militar porque esse desejo de eliminação das instituições não fazia parte da ditadura militar. A ditadura militar queria criar instituições à sua imagem e semelhança. O bolsonarismo pretende destruir instituições.”

Link: https://bit.ly/3iYDyFf

DICA PARA ASSISTIR

insta_live_2

Conversei sábado passado com o editor da Urutau Tiago Fabris Rendelli na live de lançamento do meu livro A clareira e a cidade (Editora Urutau, 2020). Está disponível no Youtube para quem perdeu.

Link: https://bit.ly/rna_live

Paris, la ville à remonter le temps. Documentário que mostra a cidade de Paris através do espaço e tempo em 5 mil anos de história. Com cenas de ficção, efeitos especiais, imagens inéditas possíveis graças ao trabalho de recuperação e tecnologia de realidade virtual, pesquisa documental aprofundada etc.

Link: https://vimeo.com/221856975

A coluna voltará em setembro de 2020.

coluna últimas páginas #9

ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a nona. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Confissões de um escritor em quarentena

Rio de Janeiro, 11 de julho de 2020.

Há alguns anos sempre me pergunto se o que estou para escrever é realmente importante, se não para os outros, ao menos para mim — principalmente para mim. Faço assim com os poemas, os contos e as crônicas, e com o romance que terminei poucas semanas atrás e está guardado esperando uma última leitura antes que eu vá procurar uma editora que o publique.

capa_urutau-1Desse modo, passei a escrever bem menos e a ler bem mais, tanto os clássicos quanto os colegas contemporâneos. Poesia, então, é bastante raro escrever, e se tivesse dado tempo para o meu poema “Tocata e fuga funestas” entrar no livro A clareira e a cidade (Editora Urutau, 2020), eu não pensaria em escrever outro livro desse gênero e estaria satisfeito com esta obra que encerra, de certa forma, toda a minha filosofia, que é também, como escreveu em outro sentido Tito Leite no seu posfácio, uma antropologia.

Já o romance é algo que não me dá prazer escrever. A necessidade — e a urgência — de escrever este, o qual dei o nome de Ensaio sobre a paisagem, tem a ver com o fato de nunca ter publicado um e de achar a experiência necessária, pelo menos antes que o romance como gênero morra definitivamente (como tudo mais, se não a nossa espécie inteira, esse mundo erigido pelo humanismo nos últimos séculos, séculos estes que assistiram à ascensão do romance). Por outro lado, é uma experiência que deve se repetir no futuro, porque outras questões se abriram e precisarei retomá-las. A urgência, todavia, teve a ver com a descoberta do câncer, e este é de modo particular um ano de urgências, por estar passando ainda por ele e por ter passado, durante o final da quimioterapia no mês passado, pelo novo coronavírus da famigerada e mortal Covid-19 (achei que os sintomas fossem da quimio, mas a médica que identificou no meu pulmão o coronavírus analisando a tomografia disse que alguns remédios do tratamento teriam atacado o coronavírus, então talvez estar fazendo quimio no momento em que peguei Covid-19 tenha sido um golpe de sorte do destino, como se costuma dizer, e salvado a minha vida). Se o ano de 2020 fosse uma pessoa, eu diria que ela está tentando me matar. Sendo assim, precavido que sou, como daqui a poucos dias passarei por uma cirurgia (por isto este balanço de minhas atividades na forma de crônica hoje), fiz questão de deixar todos os meus arquivos com originais em andamento arrumados — além do arquivo do romance, há o de crônicas e o de contos.

E sobre o arquivo de contos, o que tenho a dizer?

O conto é o gênero em que me sinto à vontade, é nele, ao escrever, que sinto também prazer, e é para ele que volto minha atenção e faço os meus estudos mais diligentes. Daí também a importância de escrever menos e refletir sempre se uma ideia vale realmente a pena ser colocada no papel (ainda uso papel e caneta [no lugar da pena supracitada, que, mesmo para mim, seria anacrônica demais] para escrever a primeira versão de um texto). Gostaria de voltar agora, nestas semanas de confinamento e de tratamento médico, ao conto (estou com alguns inéditos e acredito que, para um livro, eu esteja na metade do caminho), mas a necessidade — e não a urgência, neste caso — me colocou diante dessas crônicas que tenho escrito nos últimos dois meses, primeiro para trabalhar sobre temas mais brandos do que vinha fazendo no romance, ou que desenvolveria no conto, e depois porque percebi que seria uma forma mais direta de refletir sobre tudo o que estamos todos vivendo neste período sem ser fatalista (no conto ou no romance eu seria um deus do flagelo) e de poder conversar a respeito com os leitores quase simultaneamente.

O romance não sei quando será publicado, talvez no ano que vem ou no outro — é o segundo que escrevo —, e diferentemente do anterior, abortado e com trechos que eram já nas primeiras versões verdadeiros contos indo parar no Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos (Editora Patuá, 2018), este novo romance está pronto. Mas por ora ficarei à disposição do recém-lançado livro de poesia, o primeiro, como eu já disse, a encerrar minha filosofia, e isto num gênero que considero difícil, ou, colocando de outro modo, num gênero feito para os raros, e que eu ouso entregar-me apenas excepcionalmente.

HOJE, LIVE DE LANÇAMENTO

insta_liveO meu livro mais recente, A clareira e a cidade, já está disponível para pré-venda no site da Editora Urutau no [link]. Hoje, às 19h, participarei de uma live de lançamento no Instagram da editora. Estão todos convidados para assistir e brindar comigo. O posfácio do livro é do poeta Tito Leite, curador da revista gueto. Saiba mais [aqui].

“A verdade nunca é uma chave, mas um enigma que tem seu sustentáculo numa clareira de luzes e sombras. Nessa direção, de forma leve e meditativa, algumas questões filosóficas ganham densidade nas mãos do poeta — pois a poesia, qual a filosofia, também começa do espanto; tirando, todavia, dos estrondos de seu íntimo e das coisas todo o nó da garganta.” (Tito Leite, no posfácio)

CITAÇÃO

achille-mbembe“Acredito, por fim, que nosso mundo se divide em dois. De um lado, há aqueles que, como eu, estão convencidos de que somos apenas passantes, que caminham sabendo que caminhar é procurar na incerteza e no desconhecido. Do outro, há os que acreditam deter as verdades sobre todos os fatos, e buscam impor essas verdades a todos, pouco importando a diversidade das experiências e das situações. O abismo entre nós não cessa de aumentar.” (Achille Mbembe em “Carta aos alemães”, Goethe-Institut)

DICAS DE LEITURA

1. Uma boa oportunidade, ensaio do filósofo Jacques Rancière, em tradução de Peter Pál Pelbart, no site n-1 Edições, sobre a pandemia e pós-confinamento.

Link: https://n-1edicoes.org/039-1

2. “Mike Davis sobre os crimes do socialismo e do capitalismo”, entrevista na revista Jacobin.

Link: https://bit.ly/jacobin_davis

boaventura-livro3. Duas obras da coleção Pandemia Capital, da Boitempo Editorial, em e-book: A cruel pedagogia do vírus, de Boaventura de Sousa Santos, e A arte da quarentena para principiantes, de Christian Ingo Lenz Dunker, respectivamente nos links:

Link para Boaventura: https://amzn.to/31QkS4x

Link para Dunker: https://amzn.to/3dVJKu1

DICA PARA ASSISTIR

1. “História: Direto ao Assunto”. Documentários socioculturais. Data de lançamento: 22/05/2020. Sinopse: Aulas curtas de história que usam infográficos e imagens de arquivo falam sobre avanços da ciência, movimentos sociais e descobertas que mudaram o mundo. Episódios com cerca de 20 minutos. Disponível na Netflix.

POESIA

NA BAIXA ANDALUZIA
(de João Cabral de Melo Neto)

Nessa Andaluzia coisa nenhuma cessa
completamente de ser da e de terra;
e de uma terra dessa sua, de noiva,
de entreperna: terra de vale, coxa;
donde germinarem ali pelos telhados,
e verdadeiros, jardins de jaramago:
a terra das telhas, apesar de cozida,
nem cessa de parir nem a ninfomania.
De parir flores de flor, não de urtiga:
os jardins germinam sobre casas sadias,
que exibem os tais jardins suspensos
e outro interior, no pátio de dentro,
e outros sempre onde da terra incasta
dessa Andaluzia, terra sem menopausa,
que fácil deita e deixa, nunca enviúva,
e que de ser fêmea nenhum forno cura.

2

A terra das telhas, apesar de cozida,
não cessa de dar-se ao que engravida:
segue do feminino; aliás, são do gênero
as cidades ali, sem pedra nem cimento,
feitas só de tijolo de terra parideira
de que herdam tais traços de femeeza.
(Sevilha os herdou todos e ao extremo:
a menos macha, e tendo pedra e cimento.)

A próxima coluna será publicada sábado, 18 de julho de 2020.

coluna últimas páginas #8

ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a oitava. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Educação cinematográfica

Ou o meu cinema afetivo

Rio de Janeiro, 4 de julho de 2020.

Dentre as minhas lembranças da infância estão as de assistir aos filmes de Charlie Chaplin nas sessões de cinema do Colégio de São Bento, no Rio de Janeiro. Anos mais tarde, assistiria a todos novamente.

Chaplin, que tinha obsessão por Napoleão Bonaparte e sonhava em interpretar Hamlet e Cristo, só deixou de lado o imperador francês quando Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha e ele fez, por meio da sátira, o anti-Hitler (O grande ditador). Poucos anos antes, já tinha denunciado essa nossa sociedade movida pelo lucro financeiro em Tempos modernos. O famoso e milionário cineasta jamais esqueceu a infância paupérrima, cuja vivência possibilitou a criação de um dos personagens mais famosos do cinema, Carlitos.

Adolescente, visitando locadoras de fita VHS, eu daria continuidade a minha educação cinematográfica, desta vez pensada para este fim, com películas de Glauber Rocha, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Woody Allen, Quentin Tarantino, Akira Kurosawa, Stanley Kubrick, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Roman Polanski, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, François Truffaut, Jean-Luc Godard, David Lynch, Krzysztof Kieślowski, etc.

Às vezes, dedicava semanas inteiras a um único diretor. Aliás, algo que fica escancarado para mim hoje, mas que na época não era evidente: todos são diretores homens, não há mulheres cineastas na minha formação cinematográfica. Até que ponto esse é um meio machista ou seria eu o machista, mesmo com todos os cuidados e o esforço de desconstruir o machismo estrutural em mim? É verdade, porém, que essa minha preocupação só passou a ser uma realidade na última década.

Na faculdade de Filosofia na URFJ, aos 19, 20 anos, dei continuidade aos aluguéis, agora de DVD, e tive a oportunidade de assistir aos filmes do Glauber Rocha no IFCS, com direito a palestra de sua mãe, Dona Lúcia, uma das fundadoras da Fundação Tempo Glauber. Lembro-me também de naquela época, em meados da década de 1990, ter comprado de um colega um livro com roteiros de filmes do Fellini que tenho até hoje, chamado Fellini visionário, editado pela Companhia das Letras. Eu gostava de escrever roteiros de curtas, que não sobreviveram aos anos. Foi do cinema que trouxe para os meus contos um detalhe dos mais importantes: o corte. Neste livro tem também um ensaio do Glauber a respeito do cineasta italiano.

Já durante a faculdade de Comunicação, assistiria no cinema que existia na rua Prado Junior, em Copacabana, ao filme Morangos silvestres, de Bergman. Lembro de ter saído da sala enxergando uma Copacabana que parecia irreal e extemporânea.

Mais tarde, quando já não existiam mais locadoras e os filmes estavam na internet de alta velocidade para serem baixados em centenas de milhares de sites piratas, reveria quase todos os filmes da juventude e de outros cineastas como o polêmico Lars von Trier e o ótimo Paolo Sorrentino.

* * *

la_grande_bellezzaAtualmente, o meu diretor preferido e de quem sempre que posso revejo os seus filmes é o Paolo Sorrentino. La grande bellezza [A grande beleza] ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e o Globo de Ouro em 2014. Nesta película, acompanhamos o jornalista Jep Gambardella flanando por uma faustosa Roma. Autor de um livro de sucesso na juventude, o personagem, tendo acabado de completar 65 anos, faz uma análise de sua vida.

Outros filmes dele que costumo rever são:

La giovinezza [A juventude], que narra a história de um maestro aposentado de férias com sua filha e seu melhor amigo cineasta em um spa para milionários nos alpes suíços; com Michael Caine e Harvey Keitel.

Loro [Silvio e os outros], sobre o magnata da mídia e político Silvio Berlusconi.

Il Divo [A Vida Espectacular de Giulio Andreotti], filme biográfico sobre Giulio Andreotti, que exerceu sete mandatos como primeiro-ministro italiano e era chamado de Divo ou Belzebu.

Paolo Sorrentino também é o realizador de duas séries excelentes: The Young Pope e a continuação The New Pope. Na primeira, um jovem estadunidense charmoso e misterioso, interpretado por Jude Law, se torna o Papa Pio XIII. Diane Keaton também participa da série. Destaco o ator italiano Silvio Orlando, que interpreta o cardeal Angelo Voiello, secretário de Estado do Vaticano. A continuação tem John Malkovich como um aristocrata inglês que é colocado no trono papal e adota o nome de João Paulo III, enquanto o Papa Pio XIII está entre a vida e a morte em coma. Ambas estão disponíveis no HBO.

LANÇAMENTO

capa_urutau-1O meu livro mais recente, A clareira e a cidade, já está disponível para pré-venda no site da Editora Urutau no [link]. Sábado que vem, dia 11, participarei de uma live de lançamento no Instagram da editora. Estão todos convidados para assistir. O posfácio do livro é do poeta Tito Leite, curador da revista gueto. Saiba mais [aqui].

“Um convite aos leitores para pensarem além dos escombros de toda estrutura unidimensional, e quem sabe enxergar outras clareiras e mergulhar nos guetos das nossas cidades, deslumbrando um mundo melhor, em que a poesia é o corpo sensual do saber / que escapa.” (Tito Leite, no posfácio)

DICAS DE LEITURA

1. “A nebulosa fascista”, texto de Umberto Eco, publicado originalmente na Folha de S.Paulo em maio de 1995. Disponibilizamos em PDF para download livre.

Link: https://bit.ly/fasci_eco

2. “O que está acontecendo no Brasil é um genocídio”. Entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiro de Castro (tradução de Francisco Freitas), no site n-1 Edições.

Link: https://n-1edicoes.org/070

DICAS PARA ASSISTIR (OU OUVIR)

1. Projeto Hora da Leitura da PUC-RS com leitura de textos em poesia e em prosa. Confira a lista de reprodução no canal do Youtube no [link].

2. Terra em transe — Filme de Glauber Rocha de 1967. Disponível completo no Youtube no [link].

3. Satyricon — Filme de Federico Fellini de 1969. Disponível completo no Youtube no [link].

4. Asas do desejo — Filme de Wim Wenders de 1987. Disponível completo no Youtube no [link].

CITAÇÃO

“O que é um escritor, senão um sujeito criminoso, um juiz, um executor? Não fiquei versado na arte da decepção desde a infância? Não estou crivado de traumas e complexos? Não tenho sido manchado com toda a culpa e pecado do monge medieval?

Que coisa mais natural, mais compreensível, mais humana e perdoável do que as monstruosas agitações do poeta isolado? Tão inexplicavelmente como entravam na minha esfera, eles partiam, esses nômades.” (Henry Miller, Nexus, tradução de Hélio Pólvora)

POESIA

O HOMEM E A MORTE
(de Manuel Bandeira, em Antologia poética)

O homem já estava deitado
Dentro da noite sem cor.
Ia adormecendo, e nisto
À porta um golpe soou.
Não era pancada forte.
Contudo, ele se assustou,
Pois nela uma qualquer coisa
De pressago adivinhou.
Levantou-se e junto à porta
— Quem bate? Ele perguntou.
— Sou eu, alguém lhe responde.
— Eu quem? Torna. — A Morte sou.
Um vulto que bem sabia
Pela mente lhe passou:
Esqueleto armado de foice
Que a mãe lhe um dia levou.
Guardou-se de abrir a porta,
Antes ao leito voltou,
E nele os membros gelados
Cobriu, hirto de pavor.
Mas a porta, manso, manso,
Se foi abrindo e deixou
Ver — uma mulher ou anjo?
Figura toda banhada
De suave luz interior.
A luz de quem nesta vida
Tudo viu, tudo perdoou.
Olhar inefável como
De quem ao peito o criou.
Sorriso igual ao da amada
Que amara com mais amor.
— Tu és a Morte? Pergunta.
E o Anjo torna: — A Morte sou!
Venho trazer-te descanso
Do viver que te humilhou.
— Imaginava-te feia,
Pensava em ti com terror…
És mesmo a Morte? Ele insiste.
— Sim, torna o Anjo, a Morte sou,
Mestra que jamais engana,
A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,
A fronte do homem tocou,
Com infinita doçura
As magras mãos lhe cerrou…
Era o carinho inefável
De quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
Que amara com mais amor.

7 de dezembro de 1945.

APOIO E PARCERIA

Iniciamos nossa campanha de apoio à gueto no Catarse. Quem puder assinar, pode fazer a partir de R$ 10,00 mensais, o que nos será de muita ajuda para manter o portal no ar. Faça parte da gueto, seja um patrocinador fixo e colabore para manter nosso projeto cultural. Ele é de todos nós.

Link: https://www.catarse.me/apoie_a_gueto

A próxima coluna será publicada sábado, 11 de julho de 2020.

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Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Fuga para as estrelas

Rio de Janeiro, 27 de junho de 2020.

Estou por fora das novidades do gênero de ficção científica na literatura, o último autor que li além dos clássicos foi China Miéville, com a obra A cidade e a cidade. No entanto, quando estou realmente cansado do trabalho, do cotidiano e até das leituras obrigatórias bastante comuns a um editor, como também dos noticiários e das pessoas do meu dia a dia, tenho uma fuga por hábito há cerca de vinte e cinco anos: reler os livros da saga Fundação, de Isaac Asimov, ou os da saga Rama, de Arthur C. Clarke.

Ano passado reli os cinco livros da saga de Asimov, que descrevem em detalhes a História, com H maiúsculo, de um futuro distante da humanidade, espalhada pela galáxia. Governada por um imperador, a civilização corre o risco de se fragmentar com a queda do império. A premissa da narrativa é o livro de Edward Gibbon, Declínio e queda do Império Romano. Para evitar essa fragmentação, um psicohistoriador (uma nova ciência inventada pelo autor) decide criar um grupo de enciclopedistas para reunir todo o conhecimento da humanidade. Acompanhamos quase mil anos de aventura dos seres humanos para recuperar a unidade perdida.

01_retrofuturismo-sovietico-urrs-7Agora, durante a quarentena, sem conseguir realmente fixar a leitura em um único livro (vinha lendo vários, ou fragmentos deles, não concluindo de fato nenhum), decidi reler a saga de Arthur C. Clarke*. São quatro livros, o primeiro — Encontro com Rama — lido no sábado passado. Uma gigantesca nave alienígena, um cilindro medindo cerca de 50 quilômetros de comprimento, chega ao nosso sistema solar, desencadeando uma série de acontecimentos (e levantando várias questões existenciais, já que é a comprovação de que não estamos sozinhos no universo, pensamento, aliás, demasiadamente arrogante de nossa parte) que levará um grupo de seres humanos a viajar pela galáxia.

Entrar em naves espaciais e percorrer, portanto, a galáxia em aventuras é para mim a fuga perfeita para esquecer completamente esse nosso mundo cada vez menos propenso a olhar para novos e instigantes futuros possíveis em vez de repetir o que existe de mais atrasado em nosso passado, uma mistura de ladainhas fundamentalistas baseadas em uma religiosidade arcaica e tacanha e de um viés ideológico anticiência e anti-iluminista. Infelizmente, não são apenas o Brasil e os Estados Unidos que passam por isso, cada um com suas características particulares, mas boa parte do globo. É um sinal da década, um triste e terrível sinal.

O fato de termos um presidente da República mau, e não simplesmente ruim, mas essencialmente mau e sem empatia alguma, despreparado e burro, uma burrice assassina, que algum dia o levará a prestar contas no tribunal de Haia (assim espero!), nos deixa ainda mais exaustos. Sonhar com as estrelas é a minha fuga, um intervalo que me dou o direito a fim de limpar a mente e voltar com energia para lidar com esse nosso mundo e responder à barbárie.

* As três continuações do clássico Encontro com Rama foram escritas em parceria com o engenheiro-chefe de importantes missões da NASA Gentry Lee.

CITAÇÕES SOBRE GUERRA

hemingway“Guerras produzem suas fraudes verbais e frases antissépticas, como ‘dano colateral’. Mas assassinato tem de ser chamado pelo que é: assassinato.” (Robert Fisk, correspondente do jornal britânico Independent)

“Se você nunca viu uma batalha, sua educação foi negligenciada. Afinal, a guerra sempre foi uma das principais funções da Humanidade. Se não vir homens lutando, terá perdido algo fundamental.” (Herbert Matthews, correspondente na Segunda Guerra Mundial)

“Foi um belo dia aquele dia.” (Ernest Hemingway, se referindo ao dia em que encontrou soldados da resistência marchando para Paris na Segunda Guerra Mundial)

POESIA

A QUEIMA DOS LIVROS
(de Bertolt Brecht, tradução de Paulo César de Souza)

Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
Os livros que continham saber pernicioso, e em toda parte
Fizeram bois arrastarem carros de livros
Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido
Um dos melhores, estudando a lista de livros queimados
Descobriu, horrorizado, que os seus
Haviam sido esquecidos. A cólera o fez correr
Célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queimem-me!
Não me façam uma coisa dessas! Não me deixem de lado! Eu não
Relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me
Como um mentiroso! Eu lhes ordeno:
Queimem-me!

DICA DE LEITURA

1. O poema “Festim em tempo de peste”, do poeta russo Alexander S. Púschkin, com tradução e introdução do professor da USP Boris Schnaiderman, publicado em edição da Revista USP.

Link: https://bit.ly/usp_puschkin

DICAS PARA ASSISTIR

1. Cineclube Vladimir Herzog disponibiliza filmes clássicos no seu canal no Youtube. Confira no [link].

2. O site que simula um passeio de carro por cidades do mundo. No projeto Drive and Listen, é possível visualizar as ruas e ouvir a rádio local de diversos lugares. Confira no [link].

CITAÇÃO

“Eu estou só. O gato está só. As árvores estão sós. Mas não o só da solidão: o só da solistência.” (Guimarães Rosa)

A próxima coluna será publicada sábado, 4 de julho de 2020.

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Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

O poeta e o cometa

Rio de Janeiro, 20 de junho de 2020.

“A história é cemitério de mundos, notando-se que uns tantos acabaram de morte tão acabada que nem sequer figuram lá com uma tabuleta, não se sabe que fim levaram as cinzas.” *

Carlos Drummond de Andrade descreveu, em uma crônica de 1962,** a passagem do cometa Halley em 1910, quando ele tinha 7 anos de idade. O poeta falou sobre o belo espetáculo e os temores e o maravilhamento das pessoas. Lembrei-me de meus 10 anos, em 1986, eu havia ganhado uma luneta dos meus pais, laranja, para ver o mesmo cometa e foi uma decepção. Ao contrário de 76 anos antes, o Halley quase não foi visível a olho nu. Mesmo assim, aquelas semanas lendo notícias de astronomia nos jornais me marcaram para toda a vida.

A paixão pela astronomia aumentou ano após ano, embora eu não tenha seguido uma carreira na área, por saber que não era tão bom em matemática e nas demais ciências exatas quanto nas humanidades. A curiosidade, como leigo, porém, prosseguiu todo esse tempo; saber mais sobre os planetas, as estrelas, as galáxias, os buracos negros e os de verme, os universos infinitos e a elegância das teorias mais fantásticas, todas essas maravilhas estiveram, mesmo agora, associadas à beleza poética e sublime da existência, sem que eu precisasse, para isso, de um deus, mas apenas da ciência ao meu lado.

Não foi coincidência passar a mesma tarde lendo, além de Drummond, sobre viagens espaciais em revistas Geográfica Universal que o meu pai, médico, recebia gratuitamente nas décadas de 1970 e 1980 da Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. Um futuro do passado que se mostrava admirável aos olhos da criança que fui e da qual me lembro hoje, e que agora se mostra, de forma incontestável, perdido.

05_retrofuturismo-Klaus-Bürgle2Em uma edição de outubro de 1984, dois anos antes, portanto, da passagem do cometa, encontro uma matéria sobre projetos espaciais que descreve as naves que estavam sendo construídas para encontrá-lo. A Agência Espacial Europeia planejava colocar sua nave a mil quilômetros do núcleo do cometa. Achei curioso seu nome, Giotto, homenagem ao artista italiano que pintou, em 1301, o cometa no quadro Adoração dos magos. A URSS planejava lançar duas sondas e o Japão, uma. A agência estadunidense, por sua vez, tinha o projeto de uma vela solar giratória, semelhante a um helicóptero, e cada lâmina teria sete quilômetros de extensão. Por falta de verba, foi abandonado. O novo plano consistia em redirecionar uma sonda que se encontrava em órbita de Vênus desde 1978.

Uma outra matéria, em edição de junho de 1980, descreve o ano 2000; ou seja, vinte anos à sua frente e vinte no nosso passado. Diz um trecho: “Para as duas últimas décadas do século estão previstas atividades de construção de estruturas em órbitas terrestres, o que culminará com a instalação de uma gigantesca usina solar para fornecimento de energia ao nosso planeta.” Falava-se de pelo menos 500 trabalhadores espaciais gerando 5 mil megawatts de energia elétrica. Eu me lembro dos meus olhos, criança, brilhando ao ler essas matérias. Há poucos dias encontrei também meus cadernos em espiral com recortes de jornais daqueles anos sobre tudo que dissesse respeito ao espaço.

A explosão dos ônibus espaciais dos EUA Challenger, em 1986, 73 segundos após o seu lançamento, e Columbia, em 2003, no regresso da missão, o colapso da URSS em 1991 e o fim da Guerra Fria mudaram significativamente os rumos do que costumávamos chamar de corrida espacial. Os avanços científicos decorridos disso resultaram em maravilhas do nosso mundo, em áreas que vão da medicina à tecnologia da informação.

Atualmente, damos como feito o lançamento do primeiro foguete tripulado por uma empresa privada, a SpaceX, de Elon Musk, que outro dia se manifestou no Twitter contra a quarentena para combater a pandemia da Covid-19. O retrocesso e o atraso são um fosso de quarenta anos entre o futuro que sonhávamos quando criança e o nosso mundo, que não é eterno, mas apenas mais um prestes a acabar.

* e ** (Carlos Drummond de Andrade na crônica “Fim do mundo”, de 1962. Do livro A bolsa e a vida [Editora Record, 2008])

CITAÇÃO

“Nós vemos o mundo uma única vez, na infância. O resto é memória.” (Louise Elisabeth Glück, poeta e ensaísta estadunidense)

POESIA

PERGUNTAS PARA A HORA DO CHÁ
(de Nicanor Parra, tradução de João Carlos Martins)

Este senhor distraído parece
Uma figura de museu de cera;
Olha através de cortinas puídas:
O que vale mais, o ouro ou a beleza?
Vale mais o riacho que se move
Ou o gramado cravado na ribeira?
Distante se ouve um sino
Que abre mais uma ferida, ou que a fecha:
É mais real a água da fonte
Ou a mulher que se olha nela?
Nada se sabe e as pessoas continuam
Construindo castelos de areia.
O copo transparente é superior
À mão do homem que o criou?
Respiramos uma atmosfera cansada
De cinzas, de fumaça, de tristeza:
O que foi visto uma vez não volta
A ser visto igual, dizem as folhas secas.
Hora do chá, torradas, margarina,
Tudo envolto numa espécie de névoa.

DICAS DE LEITURA

1. Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro (Companhia das Letras, 2019).

manual_antifa_01[TRECHO] “Até serem homogeneizados pelo processo colonial, os povos negros existiam como etnias, culturas e idiomas diversos — isso até serem tratados como ‘o negro’. Tal categoria foi criada em um processo de discriminação, que visava ao tratamento de seres humanos como mercadoria. Portanto, o racismo foi inventado pela branquitude, que como criadora deve se responsabilizar por ele. Para além de se entender como privilegiado, o branco deve ter atitudes antirracistas. Não se trata de se sentir culpado por ser branco: a questão é se responsabilizar. Diferente da culpa, que leva à inércia, a responsabilidade leva à ação. Dessa forma, se o primeiro passo é desnaturalizar o olhar condicionado pelo racismo, o segundo é criar espaços, sobretudo em lugares que pessoas negras não costumam acessar.”

Link: https://amzn.to/2YBl30h

Djamila está à frente da coleção Feminismos Plurais (em parceria com a editora Pólen Livros), que traz para o grande público questões importantes sobre representatividades e outros temas atuais.

Link: https://bit.ly/femi_pluri

2. Entrevista com Eduardo Viveiros de Castro na Philosophie Magazine: “Ce qui se passe au Brésil relève d’un génocide.”

Link: https://bit.ly/philosophie_EduVC

DICAS PARA ASSISTIR

1. Unesco disponibiliza mais de 80 filmes indígenas gratuitamente no [link].

2. Cinema e poesia: Godard face a Pasolini, por Georges Didi-Huberman (98 minutos, 2014). Legendas em português. No [link].

INSTAGRAM

Kurt Vonnegut Museum & Library | @vonnegut_library

Um Instagram sobre Vonnegut. Isto é tudo!

RESENHA

das_pequenas_2Resenha de Geraldo Lima no Jornal Opção: “A narrativa ácida e inquietante de Rodrigo Novaes de Almeida”. Os contos provocam o desassossego, a reflexão sobre a natureza humana e suas atitudes, às vezes, desprovidas de lucidez e compaixão.

Link: https://bit.ly/rna_opcao

A próxima coluna será publicada sábado, 27 de junho de 2020.

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ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a quinta. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CITAÇÃO

“A criatura humana é dotada de fantasia, que acaba se tornando um dado real. Ninguém é mais realista que o visionário; ele dá um testemunho de si mesmo mais rico e mais complexo do que aquele que retém uma impressão sensorial da realidade que está observando.” (Federico Fellini)

CRÔNICA

Guido

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2020.

Excepcionalmente, uma breve crônica do livro A construção da paisagem, de 2012, em parceria com Christiane Angelotti, sendo cada metade com crônicas de um e do outro.

Algumas crianças brincam na areia perto do mar. Cavam um buraco raso e constroem castelos que logo serão varridos por uma onda. Não existem mais tatuís na praia. As crianças não sabem quem são essas criaturinhas de nome engraçado.

Um casal de idosos passeia de mãos dadas pelo calçadão. Param num quiosque para beber água de coco. O sol de outono no fim de tarde é agradável. Ao longe, observam crianças brincando na areia perto do mar.

Guido vai à janela do seu apartamento. Espera um telefonema de Anita. Numa das mãos, um copo de uísque com duas pedras de gelo. A vista da orla de Copacabana o distrai. Aves sobrevoam as ilhas Cagarras. A superfície do mar encrespa. O vento, que mudara, agora traz consigo nuvens escuras. Choverá mais tarde.

Toca o telefone. É Anita. Guido conversa com ela enquanto o seu olhar se perde na paisagem. Crianças brincam na praia. Um casal de idosos bebe água de coco no calçadão. Guido desliga o telefone e vai à cristaleira repor o seu drinque. Anita não terá filhos com Guido. Não envelhecerão juntos. Começa a anoitecer.

POESIA

OS HOMENS OCOS
(de T. S. Eliot, tradução de Ivan Junqueira)

“A penny for the Old Guy”
(Um pêni para o Velho Guy)

I

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Forma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam — se o fazem — não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

— Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

MESA

antifa_5mesa

Urariano Mota para o portal Vermelho: O quinto episódio do livro Antifascistas — contos, crônicas e poemas de resistência (Editora Mondrongo, 2020), com a escritora Cristina Judar e os escritores Jeferson Tenório e Rodrigo Novaes de Almeida. Na matéria, trechos dos textos dos três autores, sem spoiler.

Link: https://bit.ly/5mesa_vermelho

DICAS DE LEITURA

1. Revista Pessoa: Crônica de Rodney Saint-Éloi Bicicletear, bicitar, bicitandar.

Link: https://bit.ly/rev-pessoa_rodney

unb_elbc2. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea é um periódico científico quadrimestral do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, da Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília.

Link: https://bit.ly/unb_elbc

3. O direito universal à respiração, de Achille Mbembe, tradução de Ana Luiza Braga, n-1 edições 2020. Mbembe é autor de Necropolítica.

Link: https://n-1edicoes.org/020

DICA PARA ASSISTIR

1. Visitas on-line do MoMA de NY no [link]. Toda quinta-feira uma visita nova.

APOIO E PARCERIA

Iniciamos nossa campanha de apoio à gueto no Catarse. Quem puder assinar, pode fazer a partir de R$ 10,00 mensais, o que nos será de muita ajuda. Faça parte da gueto, seja um patrocinador fixo e colabore para manter nosso projeto cultural. Ele é de todos nós.

Link: https://www.catarse.me/apoie_a_gueto

A próxima coluna será publicada sábado, 20 de junho de 2020.

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ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a quarta. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Briga

Rio de Janeiro, 6 de junho de 2020.

Todo dia, às seis horas da manhã, ele toma quatro remédios. Todos os dias, ele pergunta à mulher: é só a morfina? Esta é uma das seis vezes do dia em que ele precisa tomar sua medicação.

Eu e Christiane brigamos há cerca de vinte minutos. Ela me mandou calar a boca e tapou as orelhas com os fones de ouvido. Está sentada na cama com o computador no colo. Estou de frente para ela na escrivaninha, a tela do meu computador está aberta num site com alguns poemas de Leonard Cohen. Mais cedo li uma matéria noutro site sobre sua estada em uma ilha grega. Fui parar lá porque buscava informações sobre Henry Miller. Estou lendo um livro seu que se passa na Grécia. Ele esteve na mesma ilha em que o Cohen morou e falava, no livro, de seu encontro com Giorgos Katsimbalis. Anotei uma passagem em um dos meus blocos ou cadernos. Estou com vários blocos e cadernos em uso esses dias. É tudo provisório aqui, em meu antigo quarto na casa dos meus pais. Confinados há mais de dois meses, ontem mesmo comentávamos como todo esse tempo brigamos pouco. As brigas agora são completamente tolas e logo esquecemos. Desta vez, estamos no momento que antecede as pazes. Sobre a tela do monitor percebo que ela olha para cá, ela olha para mim e espera que eu tome a iniciativa, que eu peça desculpas por algo que já não me lembro mais. É verdade, tem cerca de vinte minutos que brigamos e eu já não me lembro mais o motivo da briga. Então estou quieto, com os poemas do Cohen diante de mim e um livro de crônicas do Carlos Drummond de Andrade nas mãos. Li outro dia uma dessas crônicas, era sobre passar os dias de Carnaval recluso. Chamava-se “Ficar em casa”, e tinha pensado em reler, antes de escrever sobre o nosso confinamento há tantas semanas num quarto cheio de lembranças. Não tem muito a ver uma coisa e a outra, semelhantes mesmo apenas os vazios e os silêncios. Passar os dias velando objetos antigos que ficaram abandonados neste quarto e paisagens que não podemos mais visitar senão em nossa memória. Não consigo me concentrar quando a Christiane briga comigo. Eu não disse, mas umas dez linhas acima ela quebrou o nosso silêncio. Não foi para pedir desculpas, evidente que não, a culpa desta vez foi minha, mesmo que eu não me lembre mais. É que combinamos trocar de vez em quando de lugar, ela quer vir para a escrivaninha e eu devo ir para a cama. Para mim, tanto faz. Eu me esparramo na cama — livros, blocos, cadernos, estojo etc. são extensões do meu corpo, que é também espírito — e fico bem sentado lá até de madrugada. Ok… preciso colocar um ponto final nesta crônica. Vamos trocar de lugar. Antes, vou pedir desculpas pelo que fiz.

CINEMA NA QUARENTENA

Um projeto deixado de lado

Ou da sincronicidade com o sr. David Lynch

Bom dia! Hoje é sábado, dia 6 de junho de 2020. Aqui no Rio de Janeiro faz uma linda manhã ensolarada e não muito quieta. Parque as ruas não estão vazias, embora um vírus mortal esteja no ar e não exista vacina. Uma ou duas pequenas nuvens no céu; 21 graus Celsius. Tenha um ótimo final de semana.

Uns dias atrás, em vinte e quatro horas transcorridas percebi cinco sincronicidades acontecendo comigo. Não foram coincidências. Cheguei a anotar em um dos blocos ou cadernos, mas não encontrei o comentário para enumerá-las aqui. Admito que não me esforcei muito a procurar, porque este texto não é a respeito delas, e sim do que seria uma sexta sincronicidade.

Uns dias atrás também, comentei com a Christiane uma ideia que eu pensava em colocar em prática aproveitando ainda o confinamento: escreveria e publicaria uma série de textos descrevendo boletins meteorológicos diários e de diferentes lugares, ou de um único lugar a cada dia, ou do lugar onde estamos confinados todos esses dias — que se tornaram semanas, que se tornaram meses — como se fossem fotografias instantâneas. Aliás, para o projeto, eu compraria uma máquina de retrato Polaroide moderna, imitação com diversas melhorias tecnológicas daquelas máquinas antigas, a fim de fotografar o céu para que a foto servisse de ilustração ao texto.

A Christiane me disse para continuar tendo ideias, para anotar todas elas no caderno ou no bloco, e guardar. Se daqui a algumas semanas eu ainda considerar tais ideias boas, aí sim levá-las adiante.

Eu não me lembro como descobri o projeto do sr. David Lynch; foi, se não me engano, na véspera de anteontem. Ao vasculhar o meu histórico de navegação da internet para refazer o caminho da descoberta, constato ter ocorrido antes de Eduardo Viveiro de Castro começar a me seguir no Twitter (eu havia compartilhado uma entrevista dele a um veículo francês, e ele reparou). Depois disso, ou para além disso, perdi o rastro e desisti de vasculhar mais a fundo como cheguei na matéria sobre os boletins meteorológicos do sr. David Lynch. O que importa é que descobri o projeto. Nele o diretor de cinema fornece um relatório detalhado do clima de Los Angeles, olhando pela janela do seu escritório.

david_lynchO seu canal do Youtube se chama David Lynch Theatre, e ele começou os vídeos com os boletins meteorológicos diários em 11 de maio. Li uma reportagem que compara o cenário onde Lynch faz a gravação com o escritório em que seu vice-diretor do FBI, personagem de Twin Peaks, Gordon Cole, trabalha nos casos de suspeitos de assassinato. Eu não saberia dizer, porque tenho essa lacuna no meu currículo de telespectador. Nunca vi Twin Peaks. Do sr. David Lynch, assisti aos filmes e aos curtas. Embora ele não tenha dirigido um longa-metragem há 13 anos, ele vem lançando vídeos no Youtube, na Netflix e em outros sites de streaming, vídeos como What Did Jack Do?, em preto-e-branco, com 17 minutos de duração. Estreou em 8 de novembro de 2017, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. Mais tarde, foi lançado na Netflix (20 de janeiro de 2020).

Mais dois projetos de David Lynch para assistir: What Is David Working on Today? e Fire (Pozar). A sincronicidade com o sr. David Lynch, porém, fica por conta dos boletins meteorológicos.

CITAÇÃO

“Gosto muito mais do monólogo do que do diálogo, quando ele é bom. É como ver um homem escrever um livro expressamente para você: ele escreve, lê em voz alta, representa alguns pedaços, revê o que escreveu, saboreia o que fez, fica feliz consigo mesmo e feliz em ver que você está feliz também, e em seguida rasga tudo e joga os pedacinhos no vento. É uma performance sublime, porque enquanto está ligado, você é Deus para ele – a menos que você seja um imbecil insensível e impaciente. Mas no tipo de monólogo ao qual me refiro, isso nunca acontece.” (Colosso de Marússia, de Henry Miller)

POESIA

ACTO SEGUNDO

Do tirano o golpe já suspende;
E, como se a vontade lhe morresse,
Por momentos sem vontade permanece.
Bem como tempestade que caminha
No meio dum silêncio temeroso.
Em que as nuvens parecem que pararam
E os ventos em tumulto emmudeceram,
Ficando terra e céu sem terem voz,
Mas de repente rebenta a trovoada,
Rasgando o ar, assim o cruel Pirro,
Excitado de novo p’ra a vingança,
Como os ciclopes batendo na couraça
De Marte p’ra durar eternamente,
Cai sôbre Priame sem dó nem piedade!
Oh! Fortuna perversa! oh! dissoluta!
E vós, oh! Deuses, seu mortal poder
Aniquilai! Quebrai-lhe a roda!
E lá do alto do céu precipitai-a
Às profundezas torpes dos demônios.

(fragmento de Hamlet, p.75, de William Shakespeare, em uma edição com mais de 100 anos, do Porto, Livraria Chardron, 1918. Tradução de Dr. Domingos Ramos)

DICAS DE LEITURA

capa_jacobin1. Revista Jacobin, já salvei em favoritos. Como eles se apresentam: “A revista Jacobin é uma voz destacada da esquerda radical no mundo. Agora, em português, contribui no Brasil para uma perspectiva socialista na política, economia e cultura. Além da revista semestral, Jacobin Brasil chega com uma plataforma digital de agitação e propaganda.” Como Noam Chomsky a apresenta: “O surgimento da revista Jacobin tem sido uma luz em tempos obscuros. Cada edição traz debates vivos, profundos e análises de temas candentes, de uma perspectiva lúcida, oxigenada e rara de ser vista na esquerda. Uma contribuição realmente impressionante à sanidade — e à esperança.”

Link: https://jacobin.com.br/

cover_issue_1505_pt_BR2. Primeira edição da revista Sul Global, publicação cientifica do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ e da qual o professor Leonardo Valente é editor-chefe. Uma nova revista plural, ética e voltada para a produção científica de grande impacto e relevância. Artigos como “As alterações climáticas como reestruturadoras do Sistema Internacional e como catalisadoras de mudanças da Ordem Mundial”; “Considerações sobre a política externa no governo Bolsonaro e as relações EUA-Brasil”; “A sofisticação do neogolpismo: das manifestações de 2013 à destituição de Dilma Rousseff”; etc.

Link: https://bit.ly/sul_global_1

DICAS PARA ASSISTIR

1. #Literatura em casa. Professor da Sorbonne Université e idealizador e organizador da Printemps Littéraire Brésilien, Leonardo Tonus está dando aulas gratuitas sobre literatura em lives no final de semana. Aos sábados no Facebook e aos domingos no Instagram. Cada aula tem um tema central, único, de análise literária, que podem ser vistas também no seu canal no Youtube. Literatura em casa tem material de apoio no [link].

2. Material do Centro de Formação do Sesc está disponível no Youtube; Luiz Gama, Milton Santos e Lélia Gonzales são tema das aulas. Link da matéria [aqui].

3. Porque não podia faltar Ailton Krenak nas dicas: Le Monde Diplomatique Brasil, programa Vozes da Floresta, com… Ailton Krenak, no [link].

TWITTER

“O PT ficou 14 anos no poder e nunca fez nada contra a Covid-19. Agora é culpa do Bolsonaro?”

A frase é de Emilia Dourado, no Twitter, fazendo a melhor ironia desta semana.

FÓRUM DOS LEITORES

Por e-mail, identificando no título que é para este espaço, os leitores podem enviar comentários, elogios ou críticas a alguma publicação específica no portal, a alguma de nossas edições ou especiais, ou mesmo a algum autor. Os editores se reservam o direito de selecionar o que será publicado.

APOIO E PARCERIA

Iniciamos nossa campanha de apoio à gueto no Catarse. Quem puder assinar, pode fazer a partir de R$ 10,00 mensais, o que nos será de muita ajuda. Faça parte da gueto, seja um patrocinador fixo e colabore para manter nosso projeto cultural. Ele é de todos nós.

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A próxima coluna será publicada sábado, 13 de junho de 2020.

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ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a terceira. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Uma paisagem de outono

Rio de Janeiro, 30 de maio de 2020.

Enquanto o tratamento médico dava sinais
de que eu estava melhorando, mundos inteiros ruíam,
desapareciam completamente. Mundos que não voltarão
quando o confinamento passar, como os mortos.

Habitar sem intervalo este apartamento há semanas. Ou quase sem intervalo, com as idas ao hospital. Ver o mar da janela semiaberta do automóvel, da Uber ou do táxi; atravessar o túnel e contemplar a manhã ensolarada na orla de Botafogo, o Pão-de-Açúcar e as ruas desertas, tal como o calçadão.

Não há tráfego, os barcos e veleiros completam a paisagem da enseada.

Tanto tempo depois, retorno à minha cidade. Pensei que me sentiria um estrangeiro quando voltasse… Sem ninguém nas ruas o automóvel atravessa o Aterro do Flamengo — imagino que o sentimento seria o de ser um estrangeiro se houvesse toda a nossa gente nas ruas.

Não há aeronaves partindo ou chegando do Santos Dumont.

Em seguida, o automóvel entra em direção à Lapa para nos deixar no hospital na praça da Cruz Vermelha. Passamos sob os arcos e lembro-me das vezes em que estive aqui, com colegas ou amigos, nos anos em que trabalhei nas redondezas. Era comum beber um chope antes de ir para casa.

Nunca era um chope, e nunca uma lembrança me fez salivar como agora.

Minha mulher abre a porta do carro, ela pede para eu evitar usar as mãos, e depois que saímos — isto ocorre todas as vezes —, ela pega o frasco de álcool em gel para eu esfregá-las. Obedeço e sorrio sob a máscara. Ela não enxerga meu sorriso, talvez perceba meus olhos aflitos brilharem. Completaremos semana que vem nove anos juntos, entraremos no último ano de nossa primeira década (prefiro contar assim).

historia-880x528Todo momento é histórico, mas há momentos realmente históricos. Estamos vivendo um desses momentos realmente históricos. Outro dia pensei se não seria para estarmos realizando a famosa fantasia: o que você faria se realmente soubesse que tem apenas uns poucos dias de vida? Não sabemos quem sobreviverá a essa pandemia, estejamos confinados ou não, e escrever sobre este momento histórico terrível, e escrever sobre este momento realmente histórico e terrível com câncer, fazendo quimioterapia, faz com que eu me pergunte todos os dias: como? Não por que ou para quê. Como? Escrever com toda a sinceridade, escrever tudo o que consigo encerrar em mim dos acontecimentos, e de meus pensamentos e sentimentos mais verdadeiros, é a resposta que me satisfez dar a mim mesmo durante esse tempo. E assim tenho esse propósito de passar para as palavras ao menos um rastro de uma experiência autêntica.

O automóvel faz o caminho de volta. Vamos em direção à Cinelândia para pegar a via do Aterro outra vez. Lojas fechadas, lugares que frequentei diariamente durante anos, em uma vida anterior a esta. Vejo o Largo da Carioca, o final da Avenida Rio Branco, lembro-me dos cafés, dos sebos e das livrarias, das boutiques de relógios suíços (sempre fui um aficionado pelo mecanismo dessas máquinas) e das lojas de cutelaria.

Os dias se misturam e eu me recordo do Largo de São Francisco deserto dias antes, quando estivemos no entorno em um laboratório para eu fazer exames. Da faculdade de Filosofia fechada, de duas vidas atrás, ou são três já? De suas escadas antigas de madeira que rangiam sob nossos pés; éramos crianças aos 19 anos. Do jardim turco, onde eu me sentava a fim de escrever poemas ruins para as garotas e sonhava com diálogos filosóficos como os dos livros. Das sessões de cinema, e de uma mesa de conversa com a mãe do Glauber Rocha.

Ao sair do laboratório, passamos em frente ao Real Gabinete Português de Leitura, um dos lugares mais belos do mundo, ali, todo esse tempo. Era para lá que aquele rapaz de 19 anos ia quando se imaginava atemporal no mundo (deixo vago isto). Todas as portas estão fechadas. Todas as ruas, vazias. Um automóvel ou outro, e os dias passavam… Agora há mais gente nas ruas.

Enquanto o tratamento médico dava sinais de que eu estava melhorando, mundos inteiros ruíam, desapareciam completamente. Mundos que não voltarão quando o confinamento passar, como os mortos. Para quem ainda podia ficar em casa, e mesmo assim a morte poderia entrar, como entrou muitas vezes, não era, contudo, mais fácil do que para nós, não era apenas mais um dia à espera de uma vacina contra o vírus. Por outro lado, íamos e continuamos indo às ruas sabendo que cada saída é como apertar o gatilho de um revólver que está apontado para a própria cabeça, que nem um jogo de roleta russa.

Sobrevivi? Ontem e hoje, sim. É a resposta. A urgência, um sentimento que mesmo com todos os remédios tarjas pretas para dormir me deixavam insone (para que eu escrevesse!), até que os larguei, leva-me a outras questões, como: já não sei se isto é um fragmento do romance ou do diário. Em que pese o sentido da vida à pena da poesia, por que não?, tudo isto: um capítulo do romance Ensaio sobre a paisagem, que ora é novela, ora é ensaio, ora é diário. No entanto, logo eu sei que não colocarei no romance estas linhas.

Por essas ruas desertas em que a passagem do meu espírito, que é também corpo, mas que agora é também a química medicamentosa, que é também morfina há quase seis meses e todos os demais remédios para combater o câncer, se expande em tumultuosos pensamentos e sentimentos, eu convido o leitor em casa a vir comigo para dentro dessa paisagem de outono.

DICAS DE LEITURA

1. Em ficção, edição número 3 da Capitolina Revista, da escritora e editora Nara Vidal, no formato PDF para download livre. A número 4 já está disponível no site.

Link para o PDF: https://bit.ly/2XhcJSw
Link para o site: https://bit.ly/capitolina4

2. Artigo no El País “Cenas de uma pandemia de 1.500 anos atrás que se repetem hoje”, de Vicente G. Olaya. Pesquisa da Universidade de Barcelona destaca as surpreendentes semelhanças entre a pandemia do coronavírus e a praga de Justiniano que assolou o mundo em 541.

Link: https://bit.ly/36zt3SW

3. Laudelinas (e-book para download gratuito, 2020. Organizadoras: Rebeca Gadelha e Taciana Oliveira.)

laudelinas“O Brasil atualmente ostenta o quinto lugar mundial em feminicídio e o primeiro em feminicídio de mulheres trans e travestis. Somam-se a esses dados os inúmeros casos de violência sexual contra mulheres indígenas, a tentativa governamental de apagar a existência da população LGBTQ + e a conivência com uma estrutura social que provoca a manutenção do preconceito racial que vitima mulheres negras.

Laudelinas é uma provocação, um desabafo, uma canção denúncia e de resistência em um dos momentos mais nefastos da história do país. Nasce como uma coletânea de depoimentos, artigos, poesias, contos, fotografias e performances que procuram traduzir as constantes lutas das mulheres de diferentes etnias, trans e cis. Participam dessa edição autoras de todas as regiões do Brasil.”

Link: https://bit.ly/ebook_laudelinas

DICAS PARA ASSISTIR

Mesa: “Sonhos para adiar o fim do mundo”, com Ailton Krenak e Sidarta Ribeiro | #NaJanelaFestival da Companhia das Letras.

Esta mesa reunindo Ailton Krenak e Sidarta Ribeiro é imperdível e urgente em todos os sentidos. Krenak é imperdível e urgente em todos os sentidos. Tanto que estamos na terceira coluna e há indicações sobre ele em todas elas. Nesse bate-papo ele diz que nós precisaremos reconfigurar a gente para continuarmos a viver neste planeta. De forma poética, ele afirma: “Suspender o céu é ampliar os horizontes de todos os seres.”

Já para Ribeiro, a pandemia global é como se um automóvel estivesse capotando, e ele completa: “O carro ainda está capotando”. Não sabemos, portanto, qual será o estrago e como ele, carro, e nós, que estamos dentro dele, estaremos no fim do acidente. Se há realmente outro fim para nós nesse acidente, além do início da extinção da nossa própria espécie. Em determinado momento, Krenak diz acreditar que nós somos o único endereço desse vírus.

Sobre o que o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro está fazendo (deixando de fazer) para evitar que mais pessoas morram, os dois são unânimes. Diz Krenak que “nós estamos sofrendo um assalto à nossa ideia de cidadania e àquilo que acreditamos constituir uma República.”. Para Ribeiro, que estende a crítica ao mundo todo, “o capitalismo se desacoplou da ciência para lucrar mais.” Desse modo, “o 1% mais rico resolveu ignorar a ciência”.

Ailton Krenak ainda comenta de forma dura sobre o vídeo recém divulgado da reunião ministerial de Jair Bolsonaro: “Nessa gaiola de porcos eu não esperava nenhum pássaro”.

Sidarta Ribeiro finaliza alertando que se não formos capazes de abraçar todo o planeta a gente não vai durar, seremos uma nota de rodapé na história do planeta.

Link: https://bit.ly/krenak_sidarta

INSTAGRAM

mirada_logoMirada | @miradajanela

Mirada é um projeto colaborativo, um espaço dedicado às artes. Vale conferir! O e-book Laudelinas, que indicamos como leitura, é de lá.

POESIA

Não. Juro pelo Sol, dos deuses príncipe.
Que eu pereça da morte mais ignóbil,
sem deus e sem amigos, tristemente,
se meu peito abrigar tais intenções.
O que meu peito abriga, o que me punge
E infelicita a alma é o temor
De ver em minha pátria, que se extingue,
Novos males somarem-se aos antigos.

(fragmento de Édipo Rei, o coro, p.72, de Sófocles na tradução de Domingos Paschoal Cegalla, Difel, 1999)

CITAÇÃO

“Como um homem que vem candidamente trazer o seu grão de areia para o deserto do Saara na ilusão de que o enriquece, seja-me permitido dizer: ‘Romance por amor da vida’. Os maiores romancistas da humanidade foram grandes adoradores da vida. É um erro pensar que o romancista inventa histórias para fugir à vida. Pelo contrário. O que o leva a escrever romances é o desejo tumultuoso de multiplicá-la!” (Erico Verissimo, em “Os problemas do romance”, Folha da Manhã, 13 de agosto de 1939. Do livro Figuras do Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha [Publifolha, 2001])

FÓRUM DOS LEITORES

Por e-mail, identificando no título que é para este espaço, os leitores podem enviar comentários, elogios ou críticas a alguma publicação específica no portal, a alguma de nossas edições ou especiais, ou mesmo a algum autor. Os editores se reservam o direito de selecionar o que será publicado.

A próxima coluna será publicada sábado, 6 de junho de 2020.

coluna últimas páginas #2

ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a segunda. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

A coleção de selos da infância

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2020.

A minha filha completa hoje 15 anos de idade. Não passamos juntos o seu aniversário este ano, nem o meu, vinte dias atrás. Ela está com a avó no nosso apartamento em São Paulo e eu e a sua mãe estamos no Rio de Janeiro, confinados, há pouco mais de dois meses. O meu tratamento médico deve levar pelo menos mais um mês e saímos da casa dos meus pais apenas para ir ao hospital. Minha mãe, hipertensa e diabética, por outro lado, tem saído quase diariamente. Qualquer desculpa é motivo para ir à rua, como um tratamento dentário desnecessário para este momento. Já não ficamos mais perto dela nos ambientes comuns da casa, como sala e cozinha.

Mas a crônica deste sábado não é sobre a saudade da filha ou as dores de um coração aflito causadas por familiares irresponsáveis. Se bem que a causa é a saudade da filha, sim. Minha crônica de hoje é para lembrar a infância, tanto a de Amanda, quanto a minha — mais tarde faremos uma videoconferência, este sinal de novos tempos. Temos bastante coisas em comum, uma delas é um gosto especial por lupas. Amanda tem duas, iguais, com haste preta. Eu já tive três. A da infância mesmo, que acabo de encontrar em meu antigo quarto do apartamento dos meus pais. Junto com a lupa, daquelas baratinhas de plástico transparente e com riscos, sinais inequívocos de uso, recuperei de dentro das gavetas os dois álbuns grandes com a minha coleção de selos. Um álbum só com selos nacionais. Outro com os estrangeiros. Na lupa, em alto relevo transparente, a inscrição “Selos de todo o mundo”.

Uma segunda lupa, que serve também como peso de mesa, é uma meia esfera maciça, e ganhei na adolescência, de meu pai. Deixava em cima de uma das minhas escrivaninhas (cheguei a ter também três escrivaninhas em meu quarto, é um quarto grande, espaçoso mesmo dividindo-o, naquela época, com meu irmão caçula). A terceira lupa, muito semelhante às duas que a Amanda tem, perdi em algum momento esquecido, ou quebrou e joguei fora. De todo modo, meu desinteresse pela filatelia já era completo aos 13, 14 anos. Também só vim a usar óculos depois dos 40, então letras miúdas não eram problema. Hoje, além dos óculos (divirto-me escolhendo armações e admito ter dado uma desculpa esfarrapada quando a minha mulher precisou trocar seus óculos e eu escolhi outra armação para os meus sem necessidade), vivo pedindo uma das lupas emprestadas da Amanda, e aqui no Rio, em quarentena, depois de ter encontrado a pequena lupa de plástico, mesmo toda riscada, a tenho usado bastante, principalmente para ler revistas e jornais das décadas de 1980, 90 e anos 2000 que acumulei nesses anos e ficaram perdidas aqui.

Junto com a coleção de selo e a lupa, encontrei e guardei para levar para São Paulo duas pinças, uma de plástico preta e outra de metal, além de selos avulsos repetidos dentro de um envelope. A Amanda já guarda numa caixa, há uns três ou quatro anos, selos de correspondências que eu e a sua mãe recebemos, especialmente dos envelopes com livros que muitos autores nos enviam para a gueto. Sempre comentei sobre a minha coleção, que todo este tempo estava no Rio, e a incentivei, moderadamente, que se interessasse. Vejo que a prova mesmo de interesse será daqui a algumas semanas, quando eu retornar com essas maravilhas (ou quinquilharias, para uns) à nossa casa.

02_selo_de_gato_1A bem da verdade é somente uma: em mim o interesse por filatelia se renovou, os leitores já devem ter percebido nestas linhas o meu entusiasmo. Procuro, por exemplo, há semanas, selos de gatos (e este tema pode ser um apelo para que a Amanda participe comigo dessa incrível jornada filatélica! Nossa gatinha de um ano e pouco morreu há um ano, de uma doença pulmonar causada por um tipo de coronavírus). Se um leitor que colecione tiver selos repetidos desses animais supremos, por favor, mande cartas para a redação da revista, que é, por coincidência, o meu endereço. E não selem a carta, coloquem os selos dentro do envelope. Ficarei agradecido e escreverei uma crônica nova para contar o episódio e a alegria que sentirei, ou, se o meu plano funcionar, sentiremos, minha filha e eu.

Admito que dias atrás, voltando do hospital, cheguei a ir à esquina, na banca de jornal, perguntar se havia cartelas de selos. Nada mais anos 1980. O jornaleiro me olhou não sei se sem entender o que eu pedia ou se, tendo entendido, incrédulo; se ele for um aficionado por revistas de ficção científica deve ter pensado que eu era um viajante do tempo e estava perdido na rua Gustavo Sampaio, no Leme. Já vejo a história inteira à minha frente. Sou uma espécie de antropólogo que volta ao passado para pesquisar a época em que a humanidade ficou em quarentena no século XXI, mas, por anacronismo, procuro objetos que já não são desse mundo. “Volte 40 anos, senhor!”, diria o jornaleiro se estivesse certo sobre a minha identidade.

Agora é pensar no futuro, em uma nova coleção de selos, talvez temática, talvez sobre gatos (na verdade, nesse meio-tempo de escrita desta crônica, encontrei sites de colecionadores que vendem selos e fiquei bastante interessado em uns da antiga Alemanha Oriental), guardar a da infância, exatamente como ficou todas essas décadas, claro! E assim uma nova coleção requererá também uma nova pinça, novos álbuns e… uma nova lupa. Uma como a que vi numa lojinha de esquina numa das ruas estreitas de Veneza, perto da praça de São Marcos, onde entrei, dez anos atrás, para comprar uma caneta tinteiro, a mais em conta da loja porque o dinheiro nunca foi muito, apesar de aqueles terem sido dias melhores, caneta belíssima, a tenho na caixa ainda, um presente que me dei na única viagem que fiz à Itália. Outro dia descobri que a lojinha tem um site, que até vende para outros países, mas apenas da União Europeia, ou para os Estados Unidos. Terei que voltar lá, portanto, para ter a lupa da minha nova coleção de selos. Banalidades, reconheço. Há dias que precisamos delas. Enquanto isso, uso a lupa baratinha da minha infância.

PS.: Este texto me lembrou um heterônimo que criei exclusivamente para ser um cronista. Gostava da sua verve mais para humor do que para o trágico ou o grotesco da condição humana, que sempre apareceram na minha prosa ficcional. Ele se chamava Josué Francisco Fernandes. Talvez vocês tenham se esbarrado com ele por aí, pela rede.

DICAS DE LEITURA

1. Mais uma indicação de leitura de texto de Ailton Krenak, sempre necessário. Trata-se de “do tempo”, sua participação no Seminário Perspectivas Anticoloniais, Sesc Avenida Paulista, 6 de março de 2020.

Link: https://n-1edicoes.org/038

2. A pesquisadora Rosane Borges explica como o conceito de necropolítica se relaciona com racismo, a ideia da eliminação de um inimigo e as favelas. “O que é necropolítica. E como se aplica à segurança pública no Brasil”, 25 de setembro de 2019.

Link: https://bit.ly/2LPA60f

3. Pandemia democratizou poder de matar, diz autor da teoria da ‘necropolítica’. Filósofo camaronês Achille Mbembe estuda como governos decidem quem viverá e quem morrerá, por Diogo Bercito, na Folha de S.Paulo.

folha_spLink: https://bit.ly/2zX2X06
Link alternativo aberto: https://outline.com/2rktX2

 

4. Duas indicações de leitura (com comentários) de Giovanna Dealtry, professora da Uerj:

Z_cultural_ValeriaI. “De tudo que li sobre nós e a pandemia, esse depoimento da antropóloga feminista Valeria Ribeiro Corossacz, professora na Itália, me parece o mais lúcido e o menos preocupado com futurologias. Traz muito mais perguntas do que respostas. E é construído a partir do lugar da mulher.” Minha cidade: Espaço e tempo coletivos na Itália do coronavírus, de Valeria Ribeiro Corossacz.

Link: https://bit.ly/2Tvtpon

II. “Boaventura dos Santos é um dos grandes intelectuais do nosso tempo por entender que o pensamento intelectual precisa ser modulado, recriado a partir das novas urgências e, principalmente, não mais partindo da Europa para o resto do mundo. Como ele defende, esta é a época dos intelectuais da retaguarda e não das vanguardas. Um furo no ego da construção da figuração do intelectual. O intelectual da retaguarda, para além do intelectual orgânico, abdica da tarefa de ser a lanterna da época para seguir o fluxo sem rosto dos movimentos.” [e-book] A cruel pedagogia do vírus (Boitempo Editorial).

Link: https://bit.ly/36nqhQA

5. Coluna Arte fora dos centros, de Fred Di Giacomo. Lida dia 21, entrou aqui nas dicas aos quarenta e cinco do segundo tempo. Imperdível. “Amaro Freitas: o gênio do piano que o estado brasileiro não matou”, no Uol.

Link: https://bit.ly/2Tt6f23

DICAS DE INSTAGRAM

Prof. Claudinei Cássio de Rezende | @ccassior

07_puc_sp_arteClaudinei é professor de História da Arte e de Ciência Política. É também professor Doutor na PUC-SP e no MIS-SP. Em 2019, na PUC-SP, fiz seu curso de extensão “A Arte como expressão social da Renascença à Modernidade”. Seu Instagram é praticamente um complemento do curso. Nele, Claudinei coloca obras de arte com textos explicativos que, por si só, são aulas. Em tempo: o curso de extensão também vale muito a pena fazer, dura um semestre letivo.

n-1 edições | @n.1edicoes

A editora disponibiliza bastante material gratuito, de ficção e de não ficção, são contos, ensaios e artigos. Mas tem que garimpar.

POESIA

Ubiquidade, de Manuel Bandeira

Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino;
Estás no horizonte imenso,
Estás no grão pequenino.

Estás na ovelha que pasce,
Estás no rio que corre:
Estás em tudo que nasce,
Estás em tudo que morre.

Em tudo estás, nem repousas,
Ó ser tão mesmo e diverso!
(Eras no início das coisas,
Serás no fim do universo).

Estás na alma e nos sentidos
Estás no espírito, estás
Na letra, e, os tempos cumpridos,
No céu, no céu estarás.

Petrópolis, 11 de março de 1943.

CITAÇÃO

“Luís XIII, aos oito anos, faz um desenho semelhante ao desenho feito pelo filho de um canibal da Nova Caledônia. Aos oito anos ele tem a idade da humanidade, tem pelo menos 250 mil anos. Poucos anos mais tarde ele os perdeu, já não tem mais do que 31 anos, tornou-se um indivíduo, não é mais que um rei da França, impasse do qual não sairá jamais. O que é pior do que ser acabado?” (Henri Michaux)

A Editora Patuá faz algo bem bacana, pede aos autores uma citação para colocar no cólofon dos seus livros, que é a nota final de um impresso. Encontra-se atualmente em um cólofon as seguintes informações: o nome do impressor e/ou do editor, o lugar e a data da impressão, às vezes o número da tiragem. A citação acima escolhi para o meu livro Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos, de 2018.

ANUNCIE CONOSCO E APOIE A GUETO

revista_guetO1Somos um portal que acredita no poder da internet como ferramenta para compartilhar conhecimento. Financiar iniciativas desta natureza é uma oportunidade de contribuir para a transformação da cultura. Anuncie conosco ou seja um patrocinador fixo com sua marca vinculada a este projeto literário de sucesso, celeiro de novos autores em língua portuguesa. Também aceitamos apoio de pessoas físicas para mantermos a gueto no ar. Saiba mais no [link].

DICAS PARA ASSISTIR

Canal no YouTube de Noam Chomsky em português.

Link: https://bit.ly/Chomsky_tv_pt

Na página da Câmara Municipal de Matosinhos estão disponibilizados os vídeos do Festival Literatura em Viagem.

Link: https://bit.ly/cmm_fest-literato

Em 10 de dezembro, Clarice Lispector completaria seu centenário, e, em sua homenagem, a TV Cultura preparou um programa especial para trazer à luz a memória da escritora. Apresentado por Adriana Couto e disponível no YouTube.

Link: https://youtu.be/fs0Rt-_vkMM

OS LEITORES PERGUNTAM

Espaço aberto a perguntas dos leitores ao editor sobre qualquer assunto, literatura, coluna anterior, revista gueto, assuntos atuais e o que mais der na telha. Enviar para o e-mail editorgueto@gmail.com com título “Pergunta ao editor”, e o leitor aceita que, junto à pergunta, seu nome verdadeiro e o link para uma rede social, site ou blog de sua autoria, ou seja, que o identifique, sejam também publicados no espaço.

Fábio Paim pergunta: A pandemia pode ser o fim de muitas livrarias físicas que ainda resistem? Por outro lado, as pessoas estão aproveitando o distanciamento social para ler mais? Há alguma previsão sobre o efeito da Covid-19 sobre o mercado editorial?

Resposta: A pandemia será o fim de muitas coisas, ainda é cedo para mensurar o que vem por aí. Por outro lado, quem já lê, pode estar aproveitando para ler mais. Recentemente respondi questão semelhante numa entrevista, em que relatei que soube de algumas livrarias que estão vendendo bem até. Mesmo assim, a situação das grandes redes de livrarias, que já era complicada antes da pandemia, deve piorar. Com as editoras, a mesma coisa. A prioridade da maioria da população brasileira é comprar comida, e logo esta também será uma prioridade para quem costuma comprar livros com frequência. E aqui peço licença para repetir o restante de minha resposta, que considero indispensável dizer: O mercado livreiro é um setor que precisa de ações governamentais, não falo apenas a respeito dos livros didáticos, mas também de literatura, esta excentricidade quase absoluta no nosso país. Se tivéssemos hoje um governo de esquerda, ficaríamos melhor assistidos, todos nós. Mas esse governo de extrema direita é o pior que poderíamos ter em qualquer tempo da nossa história, porque o que fazem é necropolítica (no sentido colocado pelo filósofo, historiador e teórico político camaronense Achille Mbembe, de o Estado escolher quem deve viver e quem deve morrer).

PARA QUEM PERDEU

Entrevista ao Blog Études Lusophones, de Leonardo Tonus, em 29 de junho de 2019, sobre literatura, mercado editorial, Brasil e política [link] e entrevista para José Nunes no projeto “Como eu escrevo” em 6 de maio de 2018 [link].

A próxima coluna será publicada sábado, 30 de maio de 2020.

coluna últimas páginas #1

ultimas_pag_2020Novidade inicialmente planejada para sair com exclusividade nas edições trimestrais da revista gueto, nas versões dos formatos PDF, MOBI E EPUB, esta coluna Últimas Páginas (o nome já diz, entrarão nas páginas finais da revista) trará crônicas e informações sobre literatura, arte, política e demais assuntos de interesse de seu colunista, nosso editor-chefe, o escritor Rodrigo Novaes de Almeida. Mas a quarentena fez com que mudássemos os nossos planos. Pelo menos durante o confinamento, a coluna será aqui no portal e semanal, sempre aos sábados, para não alterar a programação das publicações semanais de segunda a sexta. Hoje, publicamos a primeira. Bem-vindxs!

Por Rodrigo Novaes de Almeida

CRÔNICA

Referências literárias

Rio de Janeiro, 16 de maio de 2020.

Recentemente, numa entrevista*, me perguntaram quais seriam os escritores que teriam me influenciado. Dei uma resposta bonita, sem citar nomes, e saindo pela tangente. Eu disse:

Essa história de referências é complicada. Talvez para alguém mais jovem isso ainda seja mensurável. Aprende-se copiando muito. Mas depois de algumas décadas a humanidade inteira, de todas as épocas — os que viveram, os que vivem e os que ainda viverão —, estará sedimentada em você. Contudo, você pode continuar a ser pelo resto da vida aquele garoto copiando seus autores prediletos, coisa de fã, não literatura.

Mas a verdade é que eu não sabia mais para quem apontar o dedo: Ernest Hemingway, Fiódor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche, Hermann Karl Hesse, Liev Tolstói, João Guimarães Rosa, Álvares de Azevedo, Castro Alves? Tolstói não seria, porque passei a ler os seus livros depois dos 30 anos, ao contrário de Dostoiévski, com quase todas as suas obras lidas e devoradas a partir dos 19. Evidentemente que cada um desses autores, e de muitos outros, me marcaram bastante, mas poderia dizer: é este aqui?; ou: não, espere, é aquele?

Não. Só recentemente descobri de fato quem seriam esses escritores que teriam me influenciado de modo que os imitaria durante os primeiros anos de escrita diária e, para o jovem ingênuo que era, séria.

Minha estada no apartamento dos meus pais no Rio de Janeiro durante essa quarentena, que já perdura dois meses, para fazer um tratamento médico, fez com que eu entrasse em contato com centenas de livros que havia deixado para trás, em meu antigo quarto. Essa é uma história que se repete com muitos filhos que saem da casa dos pais, e que sempre dizem: um dia volto para pegar. Um ano se passa, dois, e quando você se dá conta já se foi uma década inteira.

É essa a minha situação. Os livros estão aqui, os meses de tratamento vêm sendo difíceis, e há, além disso, a quarentena por causa do novo coronavírus, da Covid-19, e se não fosse a força e o amor da minha mulher ao meu lado não sei se estaria aguentando o tranco.

As horas passam lentamente, e o meu confinamento precisa ser ainda mais rígido por conta da gravidade da doença. Passo, portanto, os dias e as noites lendo e escrevendo a segunda parte do meu romance, Ensaio sobre a paisagem (com previsão de lançamento para 2021), que está estruturado de modo diferente de como fiz com a primeira parte. Pouco tempo atrás, um breve fragmento saiu na terceira edição da revista Capitolina, da escritora e editora Nara Vidal.

A fartura de livros e o excesso de morfina não me deixam concentrar na leitura de um único livro — ou talvez seja o sentimento de urgência que tomou conta da minha vida, para ler tudo o que eu possa e escrever tudo o que eu consiga caso a Fortuna não esteja mais diante de mim, e sim um vírus ceifador —, então vivo hoje com a cama, a mesa de cabeceira e o chão ao lado da cama cheios de livros, para a cada instante pegar um.

Até que um dia desses me lembrei dos meus diários e cadernos da adolescência e da juventude, manuscritos dos 17 aos 26, 27 anos, aproximadamente. Quanto mais para trás no tempo, mais curiosos ficavam os textos, porque não eram realmente literários, e sim relatos de acontecimentos, depoimentos, confissões, material suficiente para o deleite de um psicanalista.

Relendo todo esse material, vinte, vinte e cinco anos depois, descubro dois escritores que me marcaram profundamente naqueles primeiros anos de escrita, Henry Miller e o psiquiatra anarquista Roberto Freire. Hoje, existem poucos resquícios deles na minha literatura (o que considero bom e sinal de que fui bem-sucedido no longo processo para me tornar de fato escritor). O primeiro, imitava o estilo e os temas. Estava tudo lá, principalmente em trechos inteiros de sua obra autobiográfica romanceada Nexus, um dos livros da trilogia A crucificação rosada. Trópico de câncer também havia lido. Do Freire, Sem tesão não há solução, Ame e dê vexame e o romance Coiote foram minhas leituras ainda mais novo, com 15 e 16 anos. Mas era Miller quem eu imitava de forma descarada, até em seus gostos literários, especialmente por Nietzsche e Dostoiévski, dos 19 até perto dos 28, quando comecei a me desligar da produção de diários, ou seja, de uma escrita ainda autobiográfica (nada a ver com autoficção), para me dedicar à ficção, em particular aos contos. Um dado curioso é que os contos dos meus anos vinte que sobreviveram são justamente aqueles em que eu não tentei emular Miller.

Também já não escrevia poemas, algo comum de cometer na adolescência, uma produção horripilante que em algum momento mais tarde tive o bom senso de jogar tudo fora. Outra curiosidade é ter encontrado uma pasta com uns poucos poemas escritos aos 10 anos, que, relendo-os, decidi guardá-los, por serem mais autênticos do que os clichês dos anos posteriores. Um dia, em circunstâncias diferentes, torno público esse material da infância nem um pouco constrangedor.

Por outro lado, quando jovem, pensava que logo escreveria um romance — seriam anos de tentativas e erros, de romances abortados e muita frustração, até que escrevesse um que pudesse dizer: este será publicado!, o que aconteceu somente este ano. E as reviravoltas que o mundo dá, antes de lançar o romance, em breve a Editora Urutau lançará meu primeiro livro de… poemas.

01_feelingAssim, nesses meses de tratamento, enquanto salto de um livro para o outro, releio Sem tesão não há solução e os longos trechos de Nexus marcados a caneta em um passado distante. Além disso, fiz o download para o Kindle de Colosso de Marússia, livro de Miller que desconhecia, e o leio também. Fora jornais e revistas das décadas de 1980, 1990 e 2000. Fora dezenas de outros livros, de Antonio Candido a Carlos Drummond de Andrade, de Albert Camus a Theodor W. Adorno. Fora os quadrinhos recortados de veículos de imprensa, como os da Mafalda, de Calvin & Haroldo, Non Sequitur e As cobras, do Luis Fernando Verissimo, de quem sou fã e que nunca imaginei que estaria em um livro, uma coletânea, junto com ele (em dicas de leitura, a de número quatro).

DICAS DE LEITURA

1. Krenak, Ailton. O amanhã não está à venda (Companhia das Letras, 2020). Edição do Kindle.

krenak_covid19[TRECHO] “Faz algum tempo que nós na aldeia Krenak já estávamos de luto pelo nosso rio Doce. Não imaginava que o mundo nos traria esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros me disseram que iriam usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi: ‘A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida’. Então um deles me disse: ‘Mas isso é impossível’. O mundo não pode parar. E o mundo parou.”

Link: https://bit.ly/krenak_c-19

2. Harari, Yuval Noah. Na batalha contra o coronavírus, faltam líderes à humanidade (Breve Companhia, 2020). Companhia das Letras. Edição do Kindle.

yuval_covid19[TRECHO] “Nos últimos anos, políticos irresponsáveis solaparam deliberadamente a confiança na ciência, nas instituições e na cooperação internacional. Como resultado, enfrentamos a crise atual sem líderes que possam inspirar, organizar e financiar uma resposta global coordenada.”

Link: https://bit.ly/yuval-19covid

3. Contos de Quarentena (org. Mauro Paz, e-book) Participo com um conto chamado “Covid-19”.

capa (1)[APRESENTAÇÃO] Quando a realidade limita os horizontes, a literatura convida para passear. Essa foi a semente para a criação da antologia Contos de Quarentena. Organizada por Mauro Paz, a antologia tem como objetivo levar a literatura contemporânea para aqueles que estão em casa na luta contra a proliferação da Covid-19. A publicação tem distribuição gratuita na Revista Vício Velho. Está também disponível para download no site da Amazon.com.br — em kindle Unlimited ou pelo valor simbólico de R$1,99.

Links: Revista — https://bit.ly/3cwpgYL Amazon — https://amzn.to/2WSyNnU

4. Antifascistas: Contos, crônicas e poemas de resistência (orgs. Carol Proner e Leonardo Valente). Participo com um conto chamado “Cada palavra, uma morte”.

antifas_livro[TRECHO DA APRESENTAÇÃO] “Tendo como base a proposta geral da obra, foi dada liberdade temática, estilística e de formato a todas as escritoras e escritores convidados. Se necessário, crônicas poderiam extravasar seus limites para flertarem com artigos e ensaios, contos podiam parecer crônicas, e crônicas se aproximarem de contos, poemas ganharam carta branca para figurarem como desejassem seus poetas nas páginas, e ficção e realidade tiveram permissão para chegarem de mãos dadas ou bem separadas. A livre expressão em todas as suas dimensões foi mais um contraponto proposital ao engessamento conservador, limitador e classificador típico do fascismo de ontem e de hoje.”

Link para comprar: http://bit.ly/2W5fJSY

5. Printemps Littéraire Brésilien 2020

printemps_nao_ficcaoA gueto publica entre março e junho textos de ficção e de não ficção dos autores convidados da Printemps Littéraire Brésilien a partir do tema norteador deste ano: Brasil: (im)possíveis diálogos. Os textos vão ao ar primeiro individualmente no portal e depois serão reunidos em e-book (orgs. Leonardo Tonus e Christiane Angelotti) para download gratuito.

Link: https://revistagueto.com/tag/printemps2020/

6. Artigo na Folha de S.Paulo: “Brasil enfrenta duplo apocalipse com Bolsonaro e coronavírus, reflete Nuno Ramos”.

folha_sp[RESUMO] Revisitando a festa de seus 60 anos no início de março, em momento que já parece muito distante, artista e escritor, neste texto caleidoscópico, reflete sobre o bolsonarismo e a sobreposição do tempo da política e da pandemia no Brasil. Enfrentamos um duplo apocalipse ainda mais assustador por não sabermos se já se instaurou ou está por vir.

Link: https://bit.ly/2WqUuuP

7. “Diário da quarentena de Pedro Almodóvar”.

Link: https://bit.ly/almodovar_gueto

Semana que vem teremos mais dicas de leitura.

INSTAGRAM

A gueto ainda não tem Instagram. No futuro, quem sabe, abriremos um canal por lá, inclusive com IGTV em pleno funcionamento. Enquanto isso, indicamos alguns colegas parceiros que os nossos leitores podem ir conhecer.

Revista Philos | @revistaphilos

Capitaneada pelo queridíssimo e talentoso Jorge Pereira, esta revista das latinidades tem site e edições impressas. Tudo por lá é imperdível.

Revista Vício Velho | @revistaviciovelho

Editada por Carolina Hubert, é uma revista de literatura que consideramos irmã. No Instagram, a IGTV deles tem entrevistas com alguns dos autores participantes do e-book Contos de Quarentena.

São Paulo Review | @saopauloreview

Revista do jornalista, escritor, editor e artista plástico Alexandre Staut, um dos grandes amigos que fiz em São Paulo, quando trabalhamos juntos no grupo editorial que abarca as editoras Ibep (onde eu era editor) e Conrad e Companhia Editora Nacional (onde ele era editor). Seu livro Paris-Brest: Memórias de viagem e receitas deliciosas de um brasileiro pelas cozinhas da França (Companhia Editora Nacional, 2016), misto de romance de formação, diário de viagem e livro de receitas foi um dos melhores que li no ano passado.

POESIA

Na íntegra ou em fragmentos…

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia

(João Cabral de Melo Neto)

TRADUÇÃO

Rafael Mendes é tradutor e poeta. Residiu em Dublin por quatro anos e atualmente vive em Barcelona. Ele está com um projeto bem bacana. Recentemente, traduziu para o inglês três poemas meus: “Tocata e fuga funestas”, “Do filho malsucedido” e “Guerra civil”. Há outros poetas brasileiros já traduzidos e de outras nacionalidades.

O endereço é: https://poetrybilingue.wordpress.com/

CITAÇÃO

frase_freire
“Sem tesão não se faz revolução.” (Roberto Freire)

OS LEITORES PERGUNTAM

Espaço aberto a perguntas dos leitores ao editor sobre qualquer assunto: literatura, coluna anterior, revista gueto, atualidades e o que mais der na telha. Será escolhida apenas uma pergunta por leitor, a ser enviada para o e-mail editorgueto@gmail.com com título “Pergunta ao editor”, e o leitor aceita que, junto à pergunta, seu nome verdadeiro e o link para uma rede social, site ou blog de sua autoria, ou seja, que o identifique, sejam também publicados no espaço.

FÓRUM DOS LEITORES

Por e-mail, identificando no título que é para este espaço, os leitores podem enviar comentários, elogios ou críticas a alguma publicação específica, coletânea, edição ou mesmo a algum autor. Os editores se reservam o direito de selecionar o que será publicado. A forma de identificação será a mesma da seção anterior.

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*Entrevista para Artur Gomes no site do Sebo do Jidduks: https://bit.ly/entrevista_gomes e Entrevista para Antônio LaCarne no Medium: https://bit.ly/medium_rna

A próxima coluna será publicada sábado, 23 de maio de 2020.