cinco poemas do livro ‘Quênia — Poemas de viagem’, de Michaela Schmaedel

* * *

Homem
do Kilimanjaro
eterno
recém-chegado
feito pedra
espreita o mundo.

Feito homem
sente a queda.

áfrica

A máscara
pendurada
na sala

que espanta
o mal infinito
que nos ronda

o agouro
que nos liga
ao divino

é também
uma maneira
de olhar
a boa sorte.

samburu

O barulho discreto
das folhas das árvores
junto ao rio.

Um elefante
come capim
no calor extremo
do pico-vulcão.

Homens consertam
a cerca entre risos
e observam:

a constância é uma
forma de resistência.

* * *

Círculos crescem
nas mãos das mulheres
do Quênia.
Lavam roupa
fazem comida
trabalham nas hortas
lojas mercados
de mel.
Levam o país nas mãos
as mulheres circulares
do Quênia.

nakuru

Árvores mortas
no lago
há muito tempo
a água parada
nenhum pássaro
ou ninho em andamento.

Desabitado coração
da paisagem.

capa_quenia| do livro Quênia — Poemas de viagem (Cas’a edições, 2021), disponível no [link]. |

Michaela Schmaedel (1976) nasceu e mora em São Paulo, é editora de cultura e poeta. Autora dos livros Coração Cansado (Editora Penalux, 2020) e Quênia — poemas de viagem (Cas’a edições, 2021), está presente na antologia As mulheres poetas na literatura brasileira (Editora Arribaçã, 2021). Escreve resenhas para jornais e revistas e faz a edição do podcast Poesia pros Ouvidos.