“Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.”
Dylan Thomas (!914-1953)
Não venhas sorrateiramente a nós ao meio-dia,
Que os cantos e as danças avancem a tarde ainda;
Oscila, oscila o pêndulo de forma simples e fria!
E ele penderá sempre ao absurdo, fim da alegria,
Quando a humanidade já não for mais bem-vinda;
Não venhas sorrateiramente a nós ao meio-dia.
É injusto o apagar da espécie cuja ousadia
Foi ferir gravemente o mundo e se colocar na berlinda?
Oscila, oscila o pêndulo de forma simples e fria!
Não é sem propósito destruir sua única moradia,
Matar a todos ao redor e deixar tudo cinza?
Não venhas sorrateiramente a nós ao meio-dia.
A gravidade do tempo presente é a nossa comédia,
Outrora o calor de uma mãe a nos afagar, tão linda;
Oscila, oscila o pêndulo de forma simples e fria!
Conterá um mal com outro mal sem misericórdia:
Assim é a terra sem-par quando se faz desavinda.
Não venhas sorrateiramente a nós ao meio-dia.
Oscila, oscila o pêndulo de forma simples e fria!
São Paulo, 26 de julho de 2021.
Rodrigo Novaes de Almeida (Rio de Janeiro, 1976) é escritor e editor. Autor dos livros Carnebruta (Contos, Editora Apicuri e Editora Oito e Meio, 2012), Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos (Editora Patuá, 2018), finalista do 61º Prêmio Jabuti na categoria Contos, em 2019, A clareira e a cidade (Poesia, Editora Urutau, 2020) e Do amor e de outras tristezas: histórias de violência e morte (Contos, Editora Urutau, 2021), entre outros. É fundador e editor-chefe da Revista Gueto e do selo Gueto Editorial, projetos de divulgação de literatura em língua portuguesa e celeiro de novos autores.