Um brigadiano é como chamam policia militar na minha cidade
de trânsito matador
Nele os policiais vem e vão
Vem e vão os caminhões
Uma árvore não fala senão por seus atos
Os atos de uma árvore são bons
Uma árvore não responde a perguntas de polícia nem juiz
Uma árvore não responde nem pelos seus atos e pode
ser julgada como incapaz
Uma árvore não pensa
Uma árvore mantêm muitos vivos
E cada árvore sem pensar faz falta demais para o todo
Essa podia ser atitude de polícia
Manter os vivos como estão no seu lugar no mundo
Os brigadianos bem podiam ter voz ativa
Brigadianos
respondem por seus atos
E como humanos os atos deles são perfeitos em nada
pensam
falam
fazem
Mas brigadianos uma linha de raciocínio militar os impede
de falar verdadeiramente
Não devem pensar mais que uma árvore
Não devem se mover senão por vontade alheia
Brigadianos em muitos aspectos são iguais a elas
Nunca foram melhores que árvores
Nunca vão ser
E no entanto
têm medo delas
Têm medo que alguém suba em alguma
Têm medo que elas matem
Brigadianos não sabem que árvores são a única vida
São proibidos de escutá-las
Saber que lugar de humano é numa boa árvore
no meio delas e respirando
embaixo
em cima de uma
sem caminhões fedorentos passando nem carros de polícia
Isso é viver no meio da morte
Das árvores descemos ficamos eretos e caminhamos
Acredito nisso porque isso parece uma verdade
Acredito que brigadas deviam ouvir mais a opinião muda das árvores
depois pensar
depois falar
depois agir de maneira boa como as árvores
até que voltem a haver muitas árvores e brigadas venham a ser desnecessárias
Ou seja TUDO
por enquanto depende das árvores
as incapazes
Mas muita coisa pode depender daquilo que um brigadiano ainda venha a ser capaz
| poema finalista do Prêmio Off Flip 2020. |
Adrian dos Delima (Canoas, RS, 1970), nome artístico de Adriano do Carmo Flores de Lima, é poeta, tradutor, teórico de poesia e compositor; revisor, capista e diagramador. Cursou Letras, habilitação Tradução na UFRGS. Na década de 1990 publicou poemas em antologias e fanzines fotocopiados que editou com amigos, além de editar e publicar no jornal Falares, dos estudantes de letras da UFRGS. Foi pesquisador da poesia de João Cabral de Mello Neto. Seguindo seus estudos como autodidata, posteriormente publicou em revistas de papel e online, como Germina, Babel Poética, Gueto, Gente de Palavra, InComunidade, Sibila, Mallarmargens, Diversos Afins, Subversa, entre outras. É autor dos livros de poemas Consubstantdjetivos ComUns (Vidráguas e Gente de Palavra, 2015), Flâmula e outros poemas (Gente de Palavra, 2015) e O aqui fora olholhante (Vidráguas, 2017). Traduziu poemas de Joan Brossa para a Revista Gueto e de Reiner Kunze para ilustrar texto didático de livro de Geografia da Editora Moderna.