s/título, poema de Carlos Emilio Faraco

Eu sinto falta de um Deus
Que ordene ao deputado
Terrivelmente evangélico:
— Pega teu filho mais novo,
Retira-o à força de casa,
Leva-o ao alto de um prédio
E o sacrifica ao Senhor!

Eu sinto falta de um Deus
Que procurasse dez justos
No coração do poder
E, não os tendo encontrado,
Destruísse a cidade com fogo
E rios revoltos de enxofre,
Transformando os renitentes
Em brancas estátuas de sal.

Eu sinto falta de um Deus
Que tranque as portas da pátria
A todas as hostes fascistas,
Fazendo-as vagar a esmo
Sem ter casa e sem comida,
Por mais de quarenta anos
No mais adverso deserto.

Eu sinto falta de um Deus
Que em plena pandemia
Premiasse a teimosia
Com mil gigantescas crateras
Qu’ engolissem os debochados
E suas toscas ousadias.

Eu sinto falta de um Deus
Que exigisse da terra
E suas gentes folgadas,
O que exigiu do seu filho,
Ainda que para isso
Tivesse de transformar
O pouco que existe em nada.

Eu sinto falta de um deus…

Carlos Emilio Faraco é professor aposentado. Autor de obras educacionais e de um livro de poemas. Comete textos no Facebook. Ancião brasileiro (71 anos) esperando o gigante amanhecer.