pitangas
olha
cansei de chorar
as pitangas
da tua ausência
o cão que abanava o rabo
virou gata no cio
que saudade tenho
do teu corpo
sobre o meu
coladosuado
cruzaria o continente
só pra ter o gostinho
de sentar de novo na tua cara
maria
meu nome é maria
terra vermelha
banho, prece
vela sempre acesa
o coração pesa
na hora de voltar
pra casa
mas ela me disse
pra pisar firme
ela sabe
que tudo passa
no balanço da maraca
e eu sou mesmo
muitas mulheres,
um país
cavernas curadas
com água e palavra
na veia
é mãe luiza, ceará mirim,
riacho da palha e potengi
sei o caminho
porque elas mostram a mim
resiste
gostava de se olhar
como se carregasse uma bomba
debaixo do braço gostava de se olhar
e imaginar a palavra sovaco sendo lida
na academia gostava de se olhar
como se seus olhos revelassem
o paradeiro de deus gostava
de se olhar como se pudesse falar
e ser ouvida além de ser olhada
gostava de se olhar e pensar
em uma coisa dentro de outra coisa
uma música dentro de um vidro ou
ele dentro dela vidrado
gostava de se olhar
como se fosse a linha de frente
gostava de se olhar
e imaginar que a palavra
era um superpoder gostava de se olhar
como se seu cabelo fosse
uma lamparina gostava de se olhar
e imaginar a terra
tomada de volta de assalto
gostava de se olhar
e se imaginar rocha,
pele, pólvora
piolho é um bicho que existe
mesmo que ninguém se importe
mesmo que ninguém acredite
gostava de se olhar e se imaginar
vulcão
melhor: mulher
bicho que aprende a andar
e a derrubar
com licença, vandal
eu te amo e eu não vou falar
de novo eu te amo
e amo desde o caos, os pulos
desde os teus poros, teus polos
teus beijos-polga
as explosões
as coisas químicas
os mil minerais
que tu acha no meu rosto
a reencarnação de basquiat
e as dúvidas sobre deus
o calção preto, as camisas sujas
os pelos
as descobertas
as cobertas
do escuro
as coisas escondidas
em plena luz do dia
teus medos,
tua coragem de ser
teus jeitos de dizer
de novo
o teu barulho
teus gritos no pé douvido
as pinturas e as músicas
ainda na cabeça
os cochichos, os sustos
tua mão molhada
e o meu peito pronto
tua cabeça e o meu ombro
teu cabelo e meu cabelo
crescendo juntos
teu jeito de chegar
como quem finalmente chega
teu jeito de ir
como quem precisa voltar
eu te amo e eu não vou falar
de novo
Regina Azevedo nasceu em Natal-RN, em janeiro de 2000, e é poeta, técnica em Multimídia pelo IFRN e graduanda em Letras — Língua Portuguesa na UFRN. Publicou os livros Das vezes que morri em você, Por isso eu amo em azul intenso, Pirueta e Vermelho fogo. Seus livros podem sem adquiridos no site da própria autora [link].