poema em três partes, mas é um só
escalando o tempo provisório
a mão salta para pedra mais próxima
do meu olho que te afaga
e tudo vira saltos e agulhas
ou salto-agulha
e entra pela minha veia da testa
e escreve teu nome
em uma hemácia
e pronto
abarrota meu sangue
infla meu peito
nem todo caminho de volta
é uma trilha do passado
era o que eu queria escrever
quando falei sobre o tempo
penicilina do diabo
dos corações
sangram grandes prédios,
carros, motos envenenadas
& amores talhados na cutícula
minhas costelas dão corda no tempo
& os dedos cravam na carne de uma carpa virtual
nas entranhas encontro você
nas ovas têm um bebê-deus e um estado laico
eu fabrico poesia aos sábados
dentro de uma mesquita que me devora em sexo
todos os ratos desta cidade
dizem coisas boas sobre teu nome
a penicilina do diabo
é a saudade que mora entre o crânio e a poesia
como um cordeiro imolado
meu coração sangra grandes prédios,
carros, motos envenenadas
& amores talhados na tua cutícula [f.p.]
crua
a risada mais crua do que nua
tão crua que se vê o vazio
um pouco de espaço
entre as paredes
e o cinza engolindo
o azul do teu olho esquerdo
nunca a solidão foi tão bem pintada
por você
sem tela alguma
sem carros ou cavalos
prédios ou vidros embaçados
a coronha da tua saliva
esfarelando a maça do meu rosto
dando cabo ao vento
e chão aos aviões
nunca a solidão foi tão bem pintada
por você
minotauro
se o tempo
me é gastura
e para o mel da tua boca
não me há o tempo
erroneamente existo
dissolvo-me em cigarros
como um deus-menino
descalço no ladrilho da sala de jantar
cometendo o crime do resfriado
pneumonia de ti
ancoro meus navios-tristezas
em lombos de minotauros
medo me assola
nesta barriga gélida
solidão do demônio
Felipe Pauluk é um curitibano residente em Londrina, jogou na loteria da vida e, numa quina, tirou o menor prêmio, a literatura. Lançou seu primeiro livro, Meu Tempo de Carne e Osso, em 2011. Hit The Road, Jack, romance, em 2012. Em 2015, Town, outro romance. Comida di butequim e Tórax de São Sebastião foram seus dois livros de poemas publicados em 2016. Em 2017, lançou pela Bar Editora Manual Prático de Perna Mecânica para Cantores. Felipe também é roteirista.