quatro poemas de Michaela v. Schmaedel

presente

Viver o campo
o campo é a casa

flores amarelas
em meio ao verde
vigoroso

viver o campo
o campo é a casa

como se a morte
fosse agora.

solidão

A semente selvagem
é o denominador comum
das ilusões que vagam
nas grandes cidades.

Entre arranha-céus
uma gaivota gira
fantasmagórica
na noite de verão.

Olhar para cima
é o que se faz
enquanto nos arrancam
o coração.

semelhança

Tem uma coisa do corpo
o mar

algo do primeiro líquido
balanço

depois o lançamento
à linguagem.

Tem uma coisa da palavra
o mar

algo que canta ao ouvido
aspiral

a negação da solidão
martírio dela.

O mar
como a um irmão.

novo mundo

Há sempre mais carneiros
do que gente
nas montanhas da ilha sul.

Um modo de pensar o mundo:
trocar os humanos por carneiros

um campo cheio de pontinhos
pretos e brancos

ver as caras inocentes e
ouvir os berros delicados

não apelar ao matadouro
não cortar a lã.

Michaela v. Schmaedel nasceu e mora em São Paulo. É jornalista e poeta, autora do livro Coração Cansado (Editora Penalux, 2020). Para 2021, prepara o livro Quênia — poemas de viagem, que sairá pela Cas’a Edições.