avesso
No avesso do arquipélago
existem mosaicos e ilhas
brasões e miniaturas
no avesso das fagulhas
a lenta história de pérolas
entre fugazes semínimas
que adentram teus compassos
existem frações de lúcido silêncio
no avesso da avenida
existe outra avenida
mais larga e bem mais densa
no avesso do que é imenso
existe a inexistência
canto n. 2
nas permissões quânticas
da temporalidade
que ondas
conjugam as margens?
quando se refaz
a cena do princípio?
que lagos
abrem o segredo
das hipóteses?
onde pousa
o pássaro branco
cuja altura
— necessária —
te abriga?
dois noturnos
1
as salamandras convidam
para a dança das chuvas
e adormecem
serenas
sabem respostas
de escolher perguntas
a madrugada dos galopes
no estrábico desígnio
floresce
2
a erosão é busca
que revela os ventos
se alguém toca os sinos
na grande barca da noite
raio de luz submerge
no ventre da história
um vácuo de vontade
em lâmina se abre
Beatriz H. Ramos Amaral, poeta, contista e ensaísta paulistana, publicou Primeira Lua, Os Fios do Anagrama, Peixe Papiro, O Avesso do Arquipélago, A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Braga, Encadeamentos, Alquimia dos Círculos, Planagem, Poema sine praevia lege, entre outros. Doutoranda em Comunicação em Semiótica na PUC-SP e Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Formada em Direito (USP), em Música (FASM), recebeu 7 prêmios de literatura e cultura no Brasil e na Itália. Finalista dos Prêmios Jabuti 1994 e Anpoll 2008. Tem poemas e contos publicados em Portugal, nas Revistas Caliban, In-Comunidade, TriploV, In-Finita, na Argentina, na Archivos Del Sur, e também na França, na Itália e nos Estados Unidos. No Brasil, poemas publicados na Folha de S.Paulo, Mallarmargens, Germina, Ângulo, Escrita Droide, Cigarra, Rascunho, Dimensão, Revista da Biblioteca Mário de Andrade, entre outras. É Diretora de Publicações do MPD. Coordenou ciclos literários na Secretaria Municipal de Cultura.