bate a foto
em voo pobre
sem asas
um peito que não arfa
passa batido
sem compromisso
como um ônibus que não para
no ponto vazio
bate a foto de cima
vê como um cometa
gente prédios esquina
a cidade fervilha
mas sem charme que
na extensão do planeta
a distinga
está ali como também poderia
estar uma cordilheira
ou um bando de ondas
um ponto nublado no mapa
bate a foto
sem escutar nada
lá no alto ou embaixo
das milhares de árvores
só vê o granulado das copas
ovaladas
não vê embaixo de uma delas
em tarde clara de novembro
a barriga grávida
e cravejada
a primeira no galho
prestes a desabar
* * *
um casal sentado num banco
ela com cachos brilhantes
ele em camisa verde-oliva
interrompidos em seu romance
pelo romance maior com a lua
iluminada
de lá
de volta
olhar nenhum
pedras e poeira e luz solar
sem atmosfera que a reflita
lembrança de um outro mundo
o amor
Tomaz Amorim Izabel, 32, pesquisa sobre e escreve literatura. Meia lua soco é seu segundo livro de poemas e será lançado no fim deste mês pela Editora Primata.