quatro poemas inéditos de Katia Marchese

mil impiedades por dia

Sob um céu
implacável,
o azul desolava
os rostos.

Ninguém plantou
as flores da morte
naqueles corpos de agosto.

artifícios da memória

O sangue explodia dos pulsos,
formava teias vermelhas
que subiam aos céus.
(na mesma hora
o estrondo da pedreira)
Eunice calou a cena,
pedra que aderna
dentro da cabeça.

No morro São Bento,
corre aquele silêncio,
que preenche as ruas
depois dos desaparecimentos.

repertório

Pavões azulando o espaço,
não me traga problemas, Eugenio.

As coisas são como são,
nenhum homem presta, Iracema.

istambul

O céu cobalto
sobre a mesquita.
A pino, o sol das dores
cintila a fina lua e a estrela.

Tira o punhal
e colhe jabuticabas.
É o que resta.

| poemas de O azul é vingativo, plaquete ainda em construção. |

Katia Marchese é de Santos, 1962. Está nas coletâneas Senhoras Obscenas I e III (Benfazeja, 2017 e Editora Patuá, 2019), Tanto Mar sem Céu — Laboratório de Criação Poética (Lumme, 2017), Casa do Desejo — A literatura que desejamos (Editora Patuá, Flip 2018), Poesia em Tempos de Barbárie — org. Claudio Daniel (Lumme, 2019), Hiltinianas vol.1 (Editora Patuá, 2019), entre outras. Tem poemas publicados nas revistas Germina, Musa Rara, Portal Vermelho, Zunái, Ruído Manifesto, Jornal Tornado — Portugal e Jornal Rascunho. Participa do coletivo O Ateliê de Poesia. Publicou a Plaquete Por favor diga meu nome (produção gráfica Uva Costriuba, 2019). Fez o curso de Escritores do Clipe em 2019 na Casa das Rosas, Museu Haroldo de Campos de Poesia e Literatura SP. Contemplada no Edital do Governo do Estado de São Paulo Proac Poesia 2019, com o projeto do livro Mulheres de Hopper, e lançamento previsto para dezembro de 2020. Mora em Campinas.