s/título, poema de Carolina Alves

se isto é uma cena paralisante,
o braço que se estende nunca perde a força
se mantém em uma linha perpendicular com o eventual balanço
os vincos, as pequenas irrupções da pele são às pressas;
as minúcias que não questionam o totalizante
do braço paralisado que se estica, continua em ascensão ao interesse fantástico
sobre o ato
ao lado, questiono a base de uma forca e a possibilidade
da mão tombar com a fragilidade do pulso, se houver
as chances do cansaço, um esgotamento que convém
e parte ao imaginário;
nada retém a luz que derrete a cena, ela permanece imóvel
onde nada garante ao que se olha, o braço cobrindo galhos e
ganhando o aspecto semelhante ao musgo, da textura esverdeada e
gélida que cobre uma árvore, uma pedra pontiaguda que não se movimenta:
essa característica atribuída;
ao mover o braço do referente, não perde o significado e o
percurso que o segue já faz rastros,
o que acompanha a questão é
agora
onde pousa
é suficiente para um naufrágio, se dirige ao que resta.
faz um corte entre os músculos do antebraço, posicionam muitas cargas
e desfaz o gesto
como uma imagem sem futuro
(não solidifica a morte);
eu falo em referência a ti
um braço é somente um braço,
sob teus olhos.
se ao terminar uma série de possibilidades,
segura um copo e pergunta como estou
isso é sobre o tempo.

Carolina Alves é catarinense, de 1997, formada em Cinema pela UFSC.