seis poemas para um fim de mundo, de Isabela Bosi

eu começo pelo fato de não poder me colocar em pé
(Tatsumi Hijikata)

I.
aprender a não falar
novos idiomas
traduzir o impossível
como toda poesia
que se arma
diante do abismo

II.
em meu ventre
um exército minúsculo
— mais fatal que a arma de fogo
carregada no teu bolso direito —
ameaça a tua coragem
que desaparece cada noite
com o calor de teu corpo
incapaz

III.
consumido
o pavio sustenta o resto da chama
como os ossos de um corpo desfeito
a sustentar a memória de um dia
ter sido

IV.
dependendo da direção do sopro
um incêndio pode ser evitado

V.
espera
se ainda espera
enquanto escuta
em silêncio
o som da tua respiração
sumir

VI.
o tempo segue
se bifurca sem parar
em incontáveis futuros
(im-possíveis)
num deles
sou eu o inimigo

Isabela Bosi é escritora, jornalista e doutoranda em Literatura e Crítica Literária (PUC-SP). Nasceu no Rio de Janeiro, morou grande parte da vida em Fortaleza e, atualmente, vive em São Paulo. Autora dos livros Bar do Anísio: casa de liberdades (2013), Quase (2019) e Sobre viver (2019), além de uma série de vídeo-cartas e intervenções urbanas.