miragem
a imagem
burlou
a paisagem
do teu olhar
brincou
com o olho
de tolo da
imaginação
foi além
do ouro
convidou-te
à imagem
fração
nascente
do teu ventre
feneceu a esperança
dos teus lábios
calou-se o céu da boca
dos teus olhos
nasceu um rio
dos calos da tua mão
: o jardim
a outra
ela me balança
e eu não caio
quando não me
aguento
ela me carrega
quando ela me pesa
sou contrapeso
por natureza
juntas, balanceamos
nossas desmedidas
levezas
cachoeira
hipnotizada
ela não sabia
se deixava
a correnteza
amolecer
seus espinhos
ou se fugia
por um segundo
esqueceu-se
do frio da dor
do horror
das lágrimas
e salvou
o momento
passagem
meus sonhos
guardam minhas
passagens
mais secretas
meus medos
são concretos
a construir pontes
invisíveis
meus espelhos
o muro abjeto
com seus códigos
não decifrados
minhas verdades
minhas histórias
meus passos
em falso
enquanto passo
de um ambiente
a outro
aguarda-me a morte
me espreitando
não sei onde
não sei quando
transpassando
a maior viagem
o derradeiro
norte
Chris Herrmann é musicista, editora, escritora, poeta carioca, radicada na Alemanha desde 1996. No Brasil, estudou Literatura, Música e Webdesign. É pós-graduada em Musikgeragogik na Alemanha. Organizou e participou de diversas antologias de poesia. É autora dos livros de poesia Voos de Borboleta (Tubap/Clube de Autores, 2015), Na Rota do Hai y Kai (Tubap, 2015), Gota a Gota (Scenarium, 2016), Cara de Lua (Sangre Editorial/Mulheres Emergentes, 2019) e dos romances Borboleta — a menina que lia poesia (Editora Patuá, 2018) e Peccatum (Arribaçã Editora, 2020). Tem poemas publicados (em algumas também colaborou como autora) nas revistas eletrônicas Algo a Dizer (colaboradora), Zona da Palavra, Blocos Online (colunista), Revista Plural — Scenarium (colaboradora), Mallarmargens (colaboradora), Germina, Ruído Manifesto, Revista Caliban, Mirada, entre outras. É editora da Revista Ser MulherArte.