
A Editora Urutau e o autor apresentam o livro A clareira e a cidade, já disponível para venda no [link]. E sábado, dia 11 de julho, teremos uma live de lançamento. Veja mais detalhes no [link].
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A clareira e a cidade é o quinto livro de Rodrigo Novaes de Almeida, sendo sua primeira antologia poética. O título remete ao pensamento de Martin Heidegger — para este, a linguagem é a morada do Ser e cabe aos poetas e pensadores habitar nessa morada.
No entanto, as questões levantadas na obra que o leitor tem em mãos não são metafísicas, e sim aquelas que exigem uma práxis que liberte o homem da vida massificada. A proposta heideggeriana é ontológica. As inquietações filosóficas do poeta buscam um pensamento que não atropele os movimentos sociais e ao mesmo tempo dialogue com as questões atuais. De modo especial, uma antropologia.
Um convite aos leitores para pensarem além dos escombros de toda estrutura unidimensional, e quem sabe enxergar outras clareiras e mergulhar nos guetos das nossas cidades, deslumbrando um mundo melhor, em que a poesia é o corpo sensual do saber / que escapa.
(Tito Leite para o posfácio de A clareira e a cidade)
DO FILHO MALSUCEDIDO
há uma tristeza que não sai de mim
mesmo agora
segurando meu filho pela primeira vez
(foram os livros que me estragaram, reconheço)
um dia terei que dizer a essa criatura desagradável
se ela não morrer nos próximos dias
filho, não leia os livros que li
seja feliz
como essa gente que deixa a televisão ligada aos domingos
e nos dias úteis
engorda o câncer que cresce dentro de si
SOBRE O QUE SONHAM MONÓCEROS?
Porque monóceros sonham que nós existimos
— seres pequeninos dormindo sobre uma pedra sonhando
que nós existimos —,
então, nós existimos.
Nós e pedras,
desgarrados dos cursos das águas,
às margens de rios.
Nós e pedras,
e também estrelas e galáxias.
Nós e pedras,
reduzidos às experiências universais de eras;
_____(mesmo nos séculos em que não aprendemos nada,
_____em que erramos em tudo,
_____em que nunca estivemos tão tristes,
_____e também naqueles em que estivemos todos mortos e bem.)
Mas se monóceros não sonhassem que nós existimos,
se nós não existíssemos,
seria preciso que fôssemos inventados?
Rodrigo Novaes de Almeida (Rio de Janeiro, 1976) é escritor, jornalista e editor, autor dos livros Das pequenas corrupções cotidianas que nos levam à barbárie e outros contos (Editora Patuá, 2018), finalista do Prêmio Jabuti em 2019, e Carnebruta (Contos, Editora Apicuri e Editora Oito e Meio, 2012), entre outros. É fundador e editor-chefe da Revista Gueto e do selo Gueto Editorial, projetos de divulgação de literatura em língua portuguesa e celeiro de novos autores.