Brasil: (im)possíveis diálogos #23

A gueto publica entre março e junho textos de ficção e de não ficção dos autores convidados da Printemps Littéraire Brésilien a partir do tema norteador deste ano: Brasil: (im)possíveis diálogos. Os textos vão ao ar primeiro individualmente aqui no portal e depois serão reunidos em e-book (orgs. Leonardo Tonus e Christiane Angelotti) para download gratuito.

Errância: Late Afternoon

Por Carolyne Wright

(Anna Maria Maiolino, “Errância Poética” — from Da Terra Series)

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Vitor Rocha

Their footprints lead away from the brick kiln
past storage urns of pummeled, thumb-pressed clay
waiting in darkness for the potter. Their tracks
stray across the cobbled patio and studio garden
where the tortoise family feeds on mango pulp
and overripe papaya round a terracotta plate.

They move through the palm grove’s fallen coconuts
and into shade of the wide, whitewashed veranda
where they kick off flip-flops and unfasten sandal straps.
Bare-soled and empty-handed, they let themselves out
through the heavy grille-work gate, over dune grass
and onto the narrow, plank-work pier that crosses

the tidal stream. At the pier’s end, their naked feet
press into the ladder’s splintered rungs. They let go
and drop to the sand, where the praia extends a mile
at low tide into the Bay of All Saints.
Sun declining in the tropic sky, how far to wander,
they ask themselves, as evening shorebirds fly low

over the tide’s returning swell and night mists gather?

Publication credit:

First published by Hauser & Wirth New York, 2018, on a gallery “take-away” card for the exhibit, Errância Poética (Poetic Wanderings), of work by Anna Maria Maiolino (14 Nov — 22 Dec 2018). In collaboration with the Poetry Society of America.

Errância: à Tardinha

(Anna Maria Maiolino, “Errância Poética” — from Da Terra Series)

Suas pegadas levam para longe do forno à lenha
passando urnas de estocagem de argila socada
_____e desenhada a dedos
esperando na escuridão pelo oleiro. Suas trilhas
vagueiam pelo pátio de paralelepípedos e o jardim do estúdio
onde a família de tartarugas devora polpa de manga
e mamão passado em volta de um prato de terracota.

Movem-se entre os cocos caídos do palmeiral
e para dentro da sombra da larga varanda caiada
onde chutam chinelos e soltam tiras de sandália.
De solas nuas e mãos vazias, deixam-se sair
através do pesado portão gradeado, sobre a grama
de dunas e no cais estreito de tábua que cruza

o fluxo das marés. No final do cais, seus pés descalços
pressionam nas lascas dos degraus da escada. Soltam-se
e pousam de pé na areia, onde a praia se estende
meia légua na maré baixa da Baía de Todos os Santos.
O sol declinando no céu tropical, até onde vagar,
perguntam-se, enquanto as aves costeiras da noite voam baixo

sobre o retorno inchaço da maré e as névoas noturnas se reúnem.

Tradução para o Português da autora com Emanuella Leite Rodrigues de Moraes, Décio Torres e Marcelo Thomaz.

Crédito da primeira publicação:

O poema no inglês original foi publicado pela primeira vez por Hauser & Wirth New York, 2018, em um cartão da galeria “take-away” (para levar) para a exposição Errância Poética (Poetic Wanderings), de arte de Anna Maria Maiolino (14 de novembro a 22 de dezembro de 2018). Em colaboração com a Poetry Society of America.

About the Origin of This Poem — by Carolyne Wright

In October 2018, I was invited by Hauser & Wirth Gallery in NYC (in conjunction with the Poetry Society of America) to write a poem in response to a work of art in their upcoming exhibit, Errância Poética (Poetic Wanderings), from Da Terra series, by Italian-born Brazilian artist Anna Maria Maiolino. The poem would be printed on a take-away card featuring the artwork on one side and the poem on the other, and it would be free to gallery visitors. Since I had just spent two months in Bahia, Brazil, on an Instituto Sacatar Artist Residency, my thoughts were full of imagery from Bahia, and the sounds and rhythms of Bahian Portuguese. The poem’s errância takes place on the island of Itaparica in Bahia, and incorporates terms and materials from the artwork–tactile images, shapes, and textures–as well as the human inhabitants, possibly artists of Sacatar, who are moving through the landscape of the poem.

Sobre a origem deste poema — por Carolyne Wright

Em outubro de 2018, fui convidada pela Hauser & Wirth Galeria em Nova York (em conjunto com a Poetry Society of America) para escrever um poema em resposta a uma obra de arte em uma nova exposição, Errância Poética (Poetic Wanderings), da série Da Terra, da artista brasileira nascida na Itália, Anna Maria Maiolino. O poema seria impresso em um cartão para os visitantes levarem, e apresentaria a obra de arte de um lado e o poema do outro e estaria de graça para os visitantes da galeria. Desde que eu acabei de passar dois meses na Bahia, Brasil, em uma Residência Artística do Instituto Sacatar, os meus pensamentos estavam cheios de imagens da Bahia e dos sons e ritmos do português baiano. A errância do poema acontece na Ilha de Itaparica, na Bahia, e incorpora termos e materiais da obra – imagens, formas e texturas táteis – bem como a vida animal e os habitantes humanos, possivelmente artistas do Sacatar, que estão se movendo pela paisagem do poema.

Carolyne Wright’s most recent books are This Dream the World: New & Selected Poems (Lost Horse Press, 2017), whose title poem received a Pushcart Prize and appeared in The Best American Poetry 2009; and the bilingual volume by Chilean poet Eugenia Toledo, Trazas de mapa, trazas de sangre / Map Traces, Blood Traces (Mayapple Press, 2017). Carolyne spent a year in Chile on a Fulbright Study Grant and also traveled throughout Brazil. She returned to Brazil in 2018 on an Instituto Sacatar artists residency on the Island of Itaparica in Bahia. Since then, from her home in Seattle, she has been writing about Bahia and translating poetry from Portuguese, including the work of Leonardo Tonus.

Carolyne Wright. Seus livros mais recentes são This Dream the World: New & Selected Poems (Lost Horse Press, 2017), cujo poema título recebeu um Prêmio Pushcart e apareceu em The Best American Poetry 2009; e o volume bilíngue da poeta chilena Eugenia Toledo, Trazas de mapa, trazas de sangre / Map Traces, Blood Traces (Mayapple Press, 2017). Carolyne passou um ano no Chile em uma Bolsa de Estudo Fulbright, e também viajou pelo Brasil. Ela voltou ao Brasil em 2018 em uma residência artística do Instituto Sacatar na Ilha de Itaparica, Bahia. Desde então, da sua casa em Seattle, ela escreve sobre a Bahia e traduz poesia do português, inclusive a obra de Leonardo Tonus.