desaforo ao pai
no sagrado o lugar
ele me diz quando
atravesso os sons de
lauryn hill e
para as voltas em
meu turbante,
carícia tanina,
a beleza das uvas
ou as romãs velhas
amargurar à boca,
don’t touch my hair,
filha.
sociopatia é seu desabrochar
de mim — às investidas
memórias vivíssimas
do teu sub cons ciente
quando domingava aurora:
decerto é melhor se fazer
louca
bestialmente autoanuncia-se o mal
que tem dessas coisas:
não sabe guardar-se
escondido é o tremor
a vergonha
afundar-se em desonra
o ventre yorubá
que te alimentou —
não volto
há mil pedaços
de asco
nas tuas mãos —
impossíveis de qualquer
ternura
um mau cheiro inabalável
teu violento hálito
a bostejar que ama tantas pretas
por isso se afastam
de ti os beijos
a saber de teu ódio
apenas o idiota estraga
o próprio veneno, ou
talvez os suicidas —
me faço viva
se chega a noite
em tua cama uma tormenta:
de que o feito se multiplica — pro bem ou pro mal
e de longe tua incontestável mentira
não passam de
delírios delírios.
ciranda tupinambá ou réquiem para curumim
vestiam-se nas palhas pequeninas flores dançantes, o som
ao redor tilintava nos babaçus o ar mítico de tupã —
em noites chuvosas as crianças se abriam ozumbigos
na floresta
pra saudar jaci radiante, lançada
nua
às águas.
dali, do buraco
sairiam estripulias das mais puras diabruras y
também cada golpe terrível quando chutavam nosso cocar
ó jaci, que formosura tua boca
sorver cada fissura, somente tua ternura
se chama demarcação.
nem a funai para as crianci’as y
mi a mãe
traríate de volta como as araras
escondidas, puro assombro
dos latifúndios
e nas pistolas dos
fazendeiros
quando otra vez vimos cair os menino um a um na beira
do rio
come víscera, jaci
se faz neles
encantamento
a mata é tua magia alua os mirim
beija tupã e goza goza
haverá o dia e a noite que tudo será teu, lua.
Ma Njanu é escritora, poeta e educadora popular. Nasceu em Fortaleza-CE, onde vive atualmente. Publicou a obra na boca do dragão da américa latina (2020), de forma independente, e participa de antologias, zines e outras publicações. É idealizadora do Clube de Leitoras de Fortaleza e integra a Pretarau — Sarau das Pretas, coletiva de poetas negras, da qual também é produtora cultural.