calibrações, bicicletas, terremotos
uma pilha de concreto se fazendo de morta
construções da China chegando ao Brasil
na aurora a vida
ainda
na aurora
pretos dançando na chuva
e sem querer ser firme no lampejo
não há mais o que se dizer em dez minutos
não há mais necessidades fisiológicas
o mundo se encerrou
fecharam-se as pastas
o expediente continua apenas para Carlos
tirar leite das pedras e doar à caridade
dobrar lençóis questionáveis
dividir a feira em 3x no visa ou master
e mesmo assim
mesmo quando tudo em estiver em jogo
a escuridão ameaça a tela do computador
o arquivo a salvar
os pratos batendo na cozinha, riscos pela manhã
indícios da caça
são eles
os inomináveis
fazem a festa novamente
deslizam no prato sujo e se penduram nos pequenos canos
cheiram a tua roupa, passam a pequena língua no teu seio
e mordem confusamente os teus pés
não encontram nada
encontram apenas remorsos, culpa e dívidas
partem rápido pelo lençol
o único rastro
é o seu canto
Richard Plácido é escritor. Em 2016, publicou o livro entre ratos & outras máquinas orgânicas, pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Em 2019, publicou o livro de contos Da casa o nome, pela Ofélia Edições. Contato: richardplacido.com | placidorichard@gmail.com.