três poemas de Maíra Vasconcelos

há uma casa no alto
antiga e desabitada
à espera de um corpo vivente
uma casa tão lúcida
da necessidade de alguém
que nem sei se existe
tamanho trabalho e ousadia:
a casa precisa ser repensada.

* * *

como o silêncio do barulho dos pássaros
quando entram nas casas
e batem nas paredes
nos móveis ficam acurralados
a respiração abafada e o coração muito rápido
como o silêncio do barulho dos pássaros
quando entram nas casas
assim elas falavam das lembranças
de cenas não-imóveis
como tudo o que está fora das casas
esse princípio das asas.

* * *

não há garantia alguma
se onde estão os pés descalços estaremos
posicionados em luz.
olhe, por exemplo, aqueles barcos e as águas do rio
posicionados em luz
como se nunca pudessem nos afogar, mas apenas nos banhar.

Maíra Vasconcelos, escritora e jornalista, de Belo Horizonte. Escreve crônicas, desde 2014, para o Jornal GGN. Um quarto que fala (Editora Urutau, 2018) é seu primeiro livro de poemas. Reside em Buenos Aires, e é aluna do mestrado em Estudos Literários, na Universidade de Buenos Aires (UBA).