longilínea
Longa é a linha
onde meu corpo
longilíneo
se aninha
Contorna
um (uni)verso
sanguíneo
por um fio
Verbo a dançar
na carne
pasmada de
silêncios
regresso
Nas mãos
que trabalham
estremece
a bandeira
Por ordem
mulas estimulam
o progresso
das liteiras
habeas corpus
Quis sair
mas só havia
in-concreto
vias de
abscesso
Acessos de
sexta concepção
por um triz
no cérebro de
segunda
A vida desanda
convulsa
e grita sonâmbula
o direito a seu
corpus
s/título
Um dia havemos de acordar
com a ressequida seiva
das árvores queimadas
doendo em nosso tronco oco
Ardendo em nada
então a amargura da saliva
nos dará notícia
de nosso rastro na Terra:
um sinal de fumaça
desvio — via Bandeira
Eu choro
como quem faz versos
no vão
entre as palavras
v(il)ãs
decapitadas
de senso e sonho
E sonho
em capítulos soltos
no desvio
das ruas
entre a literatura
e o meio fio
da página
Esther Alcântara é poeta e por vezes cronista. Paulista, hoje vive em Salvador (BA). Atua há 27 anos na área editorial como editora e revisora de textos e está à frente da editora Carpe Librum. Dedica-se, ainda, à encadernação artesanal e flerta com livros de artista: em 2015 participou da exposição de livros de artista “Entre a dobra e a obra: memórias” na Biblioteca Mário de Andrade (SP) com a obra Raízes; em 2016 publicou o minilivro Vinte poemas para serem lidos com lupa; em 2019 promoveu oficinas de livros artesanais na Casa de Castro Alves, em Salvador. Participa de saraus e promove o Sarau Vosz. Tem textos publicados em antologias no Brasil e em Portugal, e em revistas e sites como Mallarmargens, Cult, Escambau, Gueto e Crônicas da Copa. Em 2017 lançou o livro de poemas Piracema. Em 2019 organizou e editou a coletânea A mulher e o livro — uma relação em prosa e verso, lançada na Flip do mesmo ano. No momento prepara nova obra poética.