discípulos da madrugada, poema de Maria João Cantinho

Que a sombra desça e nos tome
no seu mistério, em que tudo
é passagem e limiar, presença
furtiva e incandescente.

O rio flui e nele se submerge
o teu rosto, a tua voz,
talvez a memória de outros rostos
e de outras vozes
cruzando-se na dobra do tempo
aparentando-se na escuridão,
talvez não sejam senão destroços
de um antigo sonho
ou de uma visão em sobressalto
do eterno.

Maria João Cantinho nasceu em Lisboa em 1963. É doutorada em filosofia contemporânea e professora. Tem cinco livros de ficção publicados, quatro livros de poesia e dois de ensaio. É crítica literária e colabora regularmente em revistas e jornais. É investigadora do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e do Centre d’Études Juives da Universidade da Sorbonne IV. É membro do PEN clube, da APE (Associação Portuguesa de Escritores) e da APCL (Associação Portuguesa de Críticos Literários).