ao menino refugiado, poema de Maurício Simionato

Hoje,
cruzei mais uma fronteira,
____________________sem querer.
Alguém me puxou por cima da cerca.
Alguém me segurou do outro lado.
Alguém quis me jogar de volta.

Aqui,
pessoas carregam sacos plásticos com miudezas sem sentido,
Pedaços de coisas mudas
E malas esfarrapadas como o que restou da vida.

Nestes dias,
os abraços
São mais dolorosos
Porque há o desabraço.

Nestes dias,
Os olhares
Tornam-se um pouco mais tristes.
Porque há o desolhar.

Nestes dias,
O aperto no peito
Aperta diferente.
Pois há também
A indiferença.

Nestes dias,
O destino
Rejeita-nos de antemão.

Maurício Simionato nasceu em Assis-SP em 1973 e reside em Campinas-SP, é poeta e jornalista. Lançou os livros de poesia Impermanência (2012, premiado pelo Fundo Municipal de Cultura de Campinas) e Sobre Auroras e Crepúsculos (Editora Multifoco, 2017). Tem poemas publicados em sites como Ruído Manifesto e A Bacana, de Portugal, e em coletâneas. Como repórter, foi correspondente na Amazônia por três anos.