três poemas de Ernesto Moamba

cicatrizes
(À minha mãe África esquecida)

Mãe
Tuas dores me lembram a escravidão
Quando éramos violentados nas senzalas vestidas de escuridão

Teus olhos recordam-me a opressão
Quando éramos maltratados sem perdão
Como cães vadios desta nação, minha mãe.

as sequelas e navalhas na carne do negro

Minha mãe
Se me procurar e não me achardes onde estou
Mergulhado no sangue da África,
Ontem cuspido da boca do Negro,
não desista
Continue com as suas buscas,
peça reforço nos países vizinhos,
Bloqueia as fronteiras, os aeroportos e caminhos de ferro

Se possível ajoelha e faça acordo com Deus
Somente por um instante
Para que não me deixe atravessar os céus, minha mãe

Se procurar e não me achardes, não chores
Procure-me mesmo nos lugares sombrios,
Onde a noite não se transforma em dia
Onde foram enterrados restos dos meus ancestrais
Que no tempo da colónia se quer foram achados, minha mãe

Se me procurardes e não me achardes onde estou
Não fique lamentando pelas costas da cidade
Sai para os campos, revista-me no interior das palhotas
Nas antigas bases, onde nos escondíamos dos inimigos cessando as armas
E bravamente massacrando os inocentes
Como se fosse caças furtivas, minha mãe

Se me procurardes e não me achardes
Percorra a grandes revistas e jornais
Difunda à meios de comunicação
Faça denúncia ao Balanço Geral
E deixa a Polícia e a PIC trabalhar

E se não conseguirem trazer os factos, minha mãe
Não pense em desistir
Mas somente perdoe a mim
Desde o início fui tão covarde
Esqueci-me de informa-te, que já não estou entre vós
Que a escravidão tirou-me completamente a vida.

terra de tristeza e sangue

Sou a cultura
Condenada sem legítima defesa
Sou África
Costurado de Xigubo e azagaia
Sou miserável e incógnito
Escolhido para contar a história esquecida do meu Povo
Que está gente má,
Clandestinamente força-me calar.

Ernesto António Moamba, conhecido também como Filho da África (1994), é poeta e escritor moçambicano, nascido em Cidade de Maputo. Facebook: [link].