Bom dia, meu nome é André Luiz.
Bom dia André Luiz.
Há dez dias não acabo na igreja
nem nas mãos de um pastor. Eu tocava o terror, não havia passo
que eu desse sem consentimento, mas agora
a ignomínia não me satisfaz. Busco outra coisa, alegria
que o dinheiro não compra. Pouco importa se amigos e familiares
concordem. Bom dia, meu nome é André Luiz.
Bom dia André Luiz. E estou há dez dias sem escrever.
Venho me esforçando em não ceder às palavras
como na última vez. Podia estar fazendo sol ou chuva,
eu sentia em tudo a agrura do verso. A mãe podia estar sendo
enterrada ou o sobrinho nascendo, estava eu lá,
atrás do Graal. Nesse ponto, sou adicto.
Um poema não faz mal a ninguém, por que
ele faria comigo? Enfim… Meu nome é André Luiz.
Bom dia André Luiz. E estou há dez dias sem dinheiro.
Descobri que dinheiro não paga o pato e a gula não apaga o tédio,
e de fato é de cor esvoaçante a fome. Aprendi
a não me dar por inteiro, mas a cada instante; e é por isso
que cheguei aqui no grupo de apoio
dos Andrés Anônimos. Está claro para mim
que, em cada um de nós, o eu precisa controlar o ego,
ente maravilhoso que costuma cair em bueiros e escapa de serpentes.
Bom dia, eu me chamo André Luiz.
Bom dia André Luiz.
Já faz dez dias
que estamos sem acidentes.
André Luiz Pinto é doutor em Filosofia e autor de Flor à margem (edição particular, 1999), Primeiro de Abril (Editora Hedra, 2004), Ao léu (Editora Bem-te-vi, 2007), Terno novo (Editora 7letras, 2012), Nós, os dinossauros (Editora Patuá, 2016), entre outros.