Somos silhuetas desmembradas
num rio que corre esgarçado entre
o nevoeiro de pernas azuladas pelo frio.
As memórias são portas sem casa dentro, sem
enseadas onde se arrimem os ombros doloridos.
Deito-me sozinha entre cardos.
Não estendo a mão porque não te chego e
a consciência disso é cruel.
Deixei de invocar o teu corpo.
Não sei se por cansaço
ou se não me chegavam já as metáforas do poema.
Ainda me visita o sobressalto.
A teia de lamentos agudos como sal nas feridas.
Maria Jorgete Teixeira nasceu no Cunene, Angola. Professora aposentada, vive na cidade do Barreiro, Portugal. Obras publicadas: O coração é puta sempre à espera (prosa poética, Alfarroba, 2015); Mulher à beira de uma largada de pombos, à volta das canções de José Afonso (conto, Alfarroba, 2017); A solidão das dunas (poesia, Amazon, 2019). Participou em várias coletâneas e escreve em jornais e revistas locais.