contra conjunto ou neon sobre fumaça
o olhar mais se detém mesmo é quando falha
noutras vistas as minhas
descansadas param com essa coisa de
ultrapassa pelo acostamento
vai
tatear os mundos pelas suas córneas e pelas suas cordas
pois
dói na garganta o tanto seu nome nos pulmões
e nos descansos
e nos cenários
e numas pedras com umas sílabas
à tiracolo
ficar perguntando pra janela
quando a gente nem tá mais no carro
já chegou já chegou
não não
faltam ainda alguns aniversários
ver mais mesmo é quando longe
leio
claro tipo
um miopismo inexato
na fumaça do cigarro todas as esquivas tragadas
o cotovelo na mesa a cabeça entre os tabacos
como num balãozinho de hq daqueles de pensamento sabe
uma interrogativa
ou uma inlabial desleitura
faz quanto tempo desde a última
vez que sua boca nunca
poema tirado de uma notícia de portal
“anti sementes”
segundo Angharad, a esplêndida
e se é de degredo que arguimos
falemos então aqui
do degredo enquanto extermínio
por extensão
afastamento
voluntário ou compulsório de um contexto social
a fúria que recai sobre certas estradas
a fúria que recai sobre certos homens nessas estradas
de forma quase drônica muito étnica muito específica
falemos
da balística enquanto desplantio
sobre distância disseram perto o suficiente para queimar
as bordas do buraco aberto na camisa
cauterizar os panos
do uniforme escolar
desnecessário inserirmos aqui um por exemplo
falemos
do projétil diagnosticado como perdido
esse atingiu a barriga e saiu pelas costas
como a extensão
formal
e anti lírica
de um braço colonial de um capitão desses de mato
não desbravando e sim destruindo
tudo o que no trajeto
e não no caminho
era o corpo preto
de um menino
quantas mais das vezes matado também e até antes
nos comentários
cão das lágrimas
mas por que esperar alguma cegueira
para aprender
pelas mãos um rosto
| poemas do livro a implantação de um trauma e seu sucesso (Editora Patuá e Editora Fractal, 2019) | com lançamento sábado que vem, 30 de novembro, no Patuscada — Livraria, Bar e Café [link]. |
Ricardo Escudeiro (Santo André-SP, 1984) é (ex) metalúrgico e (ex) professor. Autor dos livros de poemas a implantação de um trauma e seu sucesso (Editora Patuá e Editora Fractal, 2019), rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016) e tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Atua como editor na Fractal e na Patuá. Idealizou e montou, em parceira com o artista Leonardo Mathias, o work in progress “A mecânica do livro no espaço”, dividido em três temporadas. Possui publicações em mídias digitais e impressas: Escamandro, Germina, Jornal RelevO, Revista 7faces, Mallarmargens, Flanzine (Portugal), Enfermaria 6 (Portugal), Tlön (Portugal), LiteraturaBR, Diversos Afins, Ruído Manifesto, Arribação, entre outras. Publicou mensalmente, entre 2014-2016, poemas na Revista Soletras, de Moçambique.