meu exílio, poema de Yuri Pires

Vivo exilado em mim,
dos outros apartado,
alegre de sozinho,
malgrado triste
de isolado.

Cada instante do fim
interroga-me
sobre o passado:
muito amei, doí muito,
embora seja mirrado;
meu muito amor,
por conseguinte,
é pouco, ralo, minguado.

Pois somente posso,
em mim, saber
de fogo apagado.
Nas cinzas pranteio
saudades de chamas
choradas em pressa
por um fim adivinhado.

Sou, portanto, fraturado,
(sereno e incendiário)
por viver trancafiado,
cabreiro, encabulado,
no homem solitário,
um menino exilado.

Yuri Pires é recifense, professor de Literatura e escritor. Autor dos livros Artifício (Intermeios, 2016) e A Pedra (Lote 42, 2017), entre outros.