destruição
Nada de novo no fogo
nada a declarar no amor.
Tudo fugiu muito rápido.
Só ficaram as palavras:
desejo
morte
sobrevivência.
aturdida
Para Bartolomeu Campos de Queirós
Aturdida é uma palavra da qual gosto muito.
Aturdida com a cidade.
Aturdida com as lojas.
Aturdida com os bares.
Aturdida com os carros.
Aturdida com as buzinas.
Aturdida com as crianças.
Aturdida com os amigos.
Aturdida com os irmãos.
Aturdida com os pais.
Aturdida com os desconhecidos.
aturdida eternamente.
Até a morte.
Amém, amém.
solo
“— Imagino que as canções de Bob Dylan
existam para nos fazer suportar dias
como este —” (Fabiano Calixto)
Esqueça aquela gaitinha,
concentre-se nas guitarras
distorcidas.
São dias difíceis,
my friend,
nem Bob Dylan dá conta.
lição (II)
Arrumar a gaveta como quem arruma o coração:
deixando sempre espaço para uma certa desordem.
estratégias para entrar e sair de crises
Entre na crise
saia da crise
entre na crise
saia da crise
entre na crise
saia para beber.
correio
Um postal cotidiano
para você que está
no país distante.
Um postal cotidiano
para contar das montanhas
do sol daqui
do azul absurdo.
Um postal cotidiano
para falar da saudade
num texto curto
não-sentimental.
pai (II)
“Não há mortos que morram tanto como os nossos”
(Gonçalo M. Tavares)
Não há dia em que não pense em ti.
Dias felizes,
dias tristes,
dias normais.
Minto.
Não há ainda dias felizes
nem dias normais.
Michaela v. Schmaedel (1976) é jornalista de cultura, tem três filhos, nasceu e mora em São Paulo. Nos últimos anos, tem se dedicado à poesia. Atualmente, cursa o Clipe (Curso Livre de Preparação do Escritor), na Casa das Rosas, e também escreve resenhas para jornais e revistas sobre o assunto. Seu primeiro livro de poesia, Coração cansado, está em fase de edição.