não tenho corpo pra fazer carão
minha pele cansa meus ossos
moem de desanimo a cada psiu
e estalo o pescoço mal ajustado
na beira da cama
não vou nunca ser uma velha safa
da nunca ser uma velha
não vou segurar essas pernas
esse sexo esses seios de menina
não por muito tempo
* * *
estou o cúmulo do mau humor
zero cal
cansaço, meu bem
quando morre uma espera?
Pergunte___pergunte aos pássaros
_____aos aviões
pois não me beija pra ver___passar a paisagem
limpar o suor ardendo os olhos
o ponto final sem morte
quando morre uma espera mas
estou muito longe
de mim
estou muito longe e justo hoje
um dia lindo para um encontro
matar o tempo no chocolate
como cortar os cabelos sem saber
onde devo ir
queimo em febre, meu bem
atolo-me no que há de ser feito
as nossas pequenas tão sozinhas no interior
just don’t leave me não me leve de mim
* * *
eu gosto de como o acaso toma as rédeas às vezes eu gosto do acaso eu sento sozinha na cama e quero arrancar a página cinquenta e um do livro de faces grudadas de yasmin. não cai uma folha sequer. nenhum acidente me acontece. eu e você não estamos sentados na grama não encosto não alcanço a altura de tua testa. eu testo as lâmpadas eu testo as lâminas eu olho de canto de olho e não esbarro de novo contigo. não temo nada, mas o acaso não me persegue.
* * *
[match made in heaven]
eu vi o céu e as nuvens
fodendo
* * *
[after a match made in heaven]
se lembre do café
da manhã na padaria da beira
da praia
se lembre do café
da tarde na padaria da principal
avenida do bairro
se lembre do café
coado um a um no fundo do
copo americano
se lembre do café
repassado requentado
na cafeteira
eventualmente se esqueça
por quem
_____sua casa
estava sendo tomada
Viviane Nogueira tem 23 anos, paulistana crescida no interior. É poeta e graduanda em Psicologia no Instituto de Psicologia da USP. É mediadora do clube de leitura Leia Mulheres Osasco. Em 2018, participou do Curso Livre de Preparação do Escritor (CLIPE), na Casa das Rosas. É autora da plaquete Onde estão os holofotes da tragédia (2018, ilustrações de Steffano Lucchini). Em setembro lança seu primeiro livro, Uma casa se amarra pelo teto (Edições Macondo, 2019).