seis poemas de Rubens Jardim

exercício de viagem

entre a via veneto
e a peixoto Gomide

existe um fosso
e nenhum castelo

existe um poço
e nenhuma água

existe eu posso?

albergue

Amor é
albergue
de
andorinha
:
coisa
arisca.

Quem se arrisca?

artimanha

A arte é
manha
de ver

A arte é
manha
de vir

A artimanha:
Viver

flagrante

O morto na avenida
está livre da sepultura.

Não sei se é desaforo
ficar assim estendido

no chão. Mas a morte
é a quebra de protocolo,

a entrega de uma carta
endereçada ao nada.

dedo em riste

Este poema não diz nada
da mesma forma
que a história não diz tudo.
Língua cortada:
este poema não fala
— falha.
E insiste
— dedo em riste.

pietá

Tão longe do meu olhar
fechada em si
e a si mesma devotada
a pedra na Pietá
adentra o gesto
adensa a face
no apedrar-se da luz
no apiedar-se da pedra

Rubens Jardim, 72 anos, jornalista e poeta. Publicou poemas em diversas antologias no Brasil e no exterior. É autor de cinco livros de poemas. Promoveu e organizou o Ano Jorge de Lima (1973) e publicou Jorge, 80 anos. Integrou o movimento Catequese Poética (1964), cujo lema era “O lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares”. Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008). Faz leitura pública de poemas, está presente em vários sites e possui o seu próprio espaço virtual: www.rubensjardim.com