Um único golpe
E os dias sangram
Um único golpe
E as palavras sangram
Um único golpe
E o país sangra
__________feito poema.
poema obscuro
Cansaço
Olhos negros/ escuros
fechados/ turvos
como a noite
como o país.
representação
O mundo inteiro
invade a vidraça
__________num golpe
Retiramos do quarto a memória
Impregnada de mofo — assoalho
ar de fuligem
O mundo inteiro
é distante
pode ser servido
frio
___em prato raso
pode ter o gosto
ácido
___de chumbo
na toalha fina do desprezo.
1932
A guerra nos escorraçou
chão batido
formigas de suor
cálices de sangue amargo
guardamos as folhas com poemas
__________contra el-rei
mas, invadiram a fórceps nossa alma
andamos em desatados
__________nós contrários
§
puseram-nos em covas rasas
carne viva
atearam fogo em nossas palavras
_________________clandestinas
vieram os urubus,
carregaram nossos olhos
tão azuis em suas rapinas/
nossos versos
__________descolaram ao vento feito plumas.
ode imemorial
(as garras)
a morte estreita suas unhas
numa branca noite de lua
_______________disforme
no reflexo frio dos cacos do espelho
_______________retorcido
(os cortes)
a morte afia seus cabelos
qual lâmina obcecada e intacta
resguarda no grito — a revolução
e serra as grades
__________para o infinito
_______________esquecimento.
| poemas do livro Faz sol mas eu grito (Editora Patuá, 2018). |
Leandro Rodrigues (1976) nasceu em Osasco, São Paulo. É poeta e professor de Literatura. Lançou em 2016 o seu primeiro livro: Aprendizagem Cinza (Editora Patuá). Em 2017 participou do jornal de literatura O Casulo e da antologia Hiperconexões 3 (Editora Patuá). Faz Sol Mas Eu Grito, seu segundo livro, foi lançado em 2018 (Editora Patuá). Teve poemas traduzidos para o catalão e espanhol pelo poeta Joan Navarro para a revista série Alfa e outros traduzidos para o inglês para a revista americana Dusie Nº 21 da UCLA (Universidade da Califórnia). Já publicou também poemas em vários sites e revistas de literatura do Brasil e Portugal.