dois poemas de ‘Cavalo que passa devagar’, de Jorge Vicente

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primeiro exorcismo: transformar figuras de linguagem em rituais mágicos de combustão.

segundo exorcismo: escrever sempre um corpo gira sobre si próprio até ao limite das suas páginas.

terceiro exorcismo: uma palavra vale sempre mais do que duas palavras desalinhadas.

quarto exorcismo: nada vale o quotidiano se não deixar entre-ver uma pequena vivência e uma pequena dialéctica de linguagens.

quinto exorcismo: viver é a dupla matéria de escrever.

sexto exorcismo: no interior da metáfora, não há aconchego para a vivência.

sétimo exorcismo: não tenhas medo de te transformar em mito de ti próprio.

oitavo exorcismo: a escrita é a matéria escura do universo.

2.
tenho um pássaro a voar sobre o meu nascimento
asas abertas sobre um corpo que se contorce de vida
essa vida [e esse mar tão estranho
como estranha a maternidade que me enche de luz

esse pássaro
ser-de-madrugada e de palavras livres
pássaro quase-materno e quase-feliz
com as asas abertas sem metáforas
e sem língua para escrever,

pássaro que abre o sol
e que olha com profundo amor
esse primeiro choro

__________[rio subtil entre duas mãos].

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Jorge Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, e desde cedo se interessou por poesia. Com Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direcção editorial da revista online Incomunidade. Tem cinco livros publicados, sendo o último Cavalo que passa devagar (voltad’mar: 2018).