I.
quem é
esse você repetido
que atravessa
os versos
as linhas
os anos
de muitos corpos
personalidades
lugares
quem é
essa segunda
pessoa conjugada
esse segundo corpo
que me persegue
quem é
o dono dessa palavra
que começa reta
se curva
e termina
numa linha
que parece infinita
quem é
que consome
meus versos
e às vezes
me deixa
muda.
II.
[sístole] por que não paro de lembrar daquele encontro?
[diástole] ele vai me ligar só deve estar ocupado
[sístole] pra ele foi só uma noite
[diástole] ainda acho que é possível
[sístole] essa coisa de amor não existe
[diástole] homens são tão desligados
[sístole] é melhor esquecer apagar de vez
[diástole] a pele dele é tão gostosa
[sístole] será que fiz alguma coisa errada?
[diástole] não preciso ter pressa
[sístole] já passou tanto tempo e até agora nada
[diástole] ele deve ser muito tranquilão mesmo
[sístole] eu vou esquecer sei que vou esquecer
[diástole] não preciso apagar tudo foi tão bonito
[sístole] será que ele encontrou alguém?
III.
aquele nosso oi foi protocolar
eu escandalizando
com meu batom vermelho
por puro deboche
não tinha percebido
que naquele canto
da casa bate sol
me dou conta
que não te mostrei
nada disso
passo meu batom vermelho
torcendo que não seja
pra você
por puro deboche
você foi pra mim
a mais cafona
das metáforas
um filme de terror
que começa
num dia ensolarado
passo meu batom vermelho agora
e não é pra você
é por puro deboche.
Julia Bac é formada em História (PUC, 2004), em Artes Visuais (Centro Universitário Belas Artes, 2009) e é mestre em Arte e Patrimônio (Maastricht University, 2011). Fez o CLIPE Poesia 2017 da Casa das Rosas e estudou no núcleo de ficção do Curso de Formação de Escritores do Instituto Vera Cruz, em 2018. Atualmente publica seus poemas no blog papel pele.