três poemas de Adrian’dos Delima

poesia marginal

Contra os guardas do rei Inverno
os 3 mosqueteiros de rua
lutam contra
o abandono
unidos no chão duro da marquise onde
um dorme agora
o sol chega sem força
um senta com ar amorfo no rosto pra baixo
na soleira do comércio
o outro
em pé
parece cheio de derrota
e ontem ainda o vi
entrar vitorioso
no supermercadinho
comprar o pão do café nosso
enquanto nenhum dos 3
parece mais louco que vocês

pessoas da casa real

chegou o frio
não chegou ninguém
chegou uma van
dos crentes com sopinha
chegou o polícia e me chutou
não pode dormir aí vagabundo
não pode dormir aí vagabunda
tua mãe era prostituta também
todos na tua família são vagabundos
e juntamos nossos trapos
e vamos lá
__________pelo tobogã
isto me lembra o melhor de Eliot
descendo uma encosta
ou algo assim aristocrata
um dia achamos nossa marquise
onde seremos mais

do brasil sem lei para todo lugar

ficou
depois do holocausto
um claustro de onde
as palavras não saem
depois de hiroshima
depois de mais
um golpe no
estado democrático
um nó na goela
e nos nós dos dedos
que já não sai nada dito
nem se grava
mais que um silêncio
neste mundo onde a covardia
não se autografa

Adrian’dos Delima (Canoas-RS), pseudônimo para Adriano do Carmo Flores de Lima, é poeta, tradutor, teórico de poesia e compositor. Cursou Letras, habilitação Tradução na UFRGS, onde não se graduou em função de dificuldades econômicas. Na década de 1990 publicou poemas em antologias e fanzines fotocopiados que editou com amigos, além de editar e publicar no jornal Falares, dos estudantes de letras da UFRGS. Seguindo seus estudos como autodidata, posteriormente publicou em revistas de papel e online. Publica, sem muita regularidade, traduções e poemas próprios na sua página Rim&via. É autor dos livros Consubstantdjetivos ComUns (Vidráguas e Gente de Palavra, 2015), Flâmula e outros poemas (Gente de Palavra, 2015) e O aqui fora olholhante (Vidráguas, 2017). Traduziu poemas de Joan Brossa para a Revista Gueto.