as outras de mim
Sou uma mulher
ainda menina.
Sou aquela que pede
e aquela que ensina.
Alugo meu ombro,
distribuo esperanças,
cobro presenças.
Sou aquela que peca
e a que dá a sentença.
Sou várias em uma,
sem me esquecer de mim.
Sigo avante nesta estrada,
sem me importar
com olhares e juízos,
nem com quem não entende
a direção que o mundo me deu,
pois, no final de tudo,
quem sabe da minha vida
e das minhas agruras
sou eu,
somente eu…
os fios
O fio da meada,
o fio de linha,
o fio da navalha,
o fim da vida.
Um fio de esperança,
um fio de novelo.
Um fio que cai da roupa
e gruda no espelho.
Um fio de luz no túnel,
um fio de amor no tempo.
O fio elétrico que me une
ao mundo e aos acontecimentos.
Fios emaranhados de mim
que passeiam por entre visões.
Pedaços de fios se perderam
em meio a vãs ilusões.
Desfiada, cansada, vazia.
Os fios que me vinculam a tudo que me cerca,
também me tornam arredia,
em busca do fio que nos liga ao infinito,
para que eu nunca perca a conexão,
Fio delicado que dá o laço no presente,
o fio de ouro que remenda o coração.
terapia
Aceitei-me como sou,
levou tempo,
precisei me educar.
Vi-me ali, tão frágil,
disposta a entender,
o que a vida faz com a gente
quando começamos a nos reconhecer.
Pés errantes,
alma grená.
Eu sou como um novelo emaranhado,
cujo nó que o desenrola
eu ainda não sei bem onde está.
Patrícia Reinbrecht (1974) nasceu em Rio Grande-RS e se mudou para a capital, Porto Alegre, no final dos anos 1990, depois morou dez anos em Florianópolis e desde 2010 é uma sulista perdida em Brasília. Publica seus poemas nas páginas do Facebook e do Instagram Minha busca em diários [link] e na revista Criado Mudo, da plataforma Medium.