Salvadores e santos estão em falta no mercado.
Neste mundo, marcado e maculado pela fama,
Narciso, em seu espelho se contempla,
Vaidades e vãs coisas se consomem,
A fome a injustiça se consumam.
Poucos anjos habitam o gueto de Varsóvia,
os campos de concentração de toda a Terra.
Irena abre as asas sobre o mundo.
Enquanto Narciso se afoga refletido
no espelho — branca imagem ariana,
Miragem que ilude e que engana,
O Anjo de Varsóvia desafia
A vil tortura, delírio hitleriano de loucura.
A Irena o Futuro se confia.
Mãe anônima, heroica fada de bondade,
Filhos da guerra resgata da orfandade,
À saga do Êxodo, dá continuidade,
À raça do povo escolhido, eternidade.
Mutilada e aviltada, sua carne em fé insiste,
Quase um século atravessa — o Espírito persiste.
No breve espaço-tempo destes versos
O lapso e os laivos desta chama
Tributo e reverência a esta divina-humana dama
Resistência à escória, do mal desmemória
Transfiguração do drama vil
Em luminosa História.
Seu nome sagrado brota e cresce:
Folha, fruto e flor de estéril solo
Tem aroma de amor,
Eterno verde. Perene aroma: Verbena. Irena.
Sílvia Simone Anspach concluiu o doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1987, com bolsa Fulbright para visiting scholar and faculty na University of North Carolina. Mestre em Linguística Aplicada na University of Reading em 1981, Sílvia tem formação em Psicanálise e especialização em Psicologia Analítica. Foi professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) de 1981 a 2007 e atualmente leciona e orienta trabalhos científicos no curso de Pós Graduação em Arte Integrativa do Centro de Estudos Universais (Anhembi-Laureate Unversity). Recebeu diversos prêmios e/ou homenagens, é autora de livros e no presente momento trabalha no eixo Brasil-Estados Unidos, atuando em comissões julgadoras e como palestrante em assuntos de Criação Literária e Post Colonial Literature.