voz
Eu vi a pele no vidro
Solta no meio dos carros
E o sangue tingindo a roupa
Entre as pontas de cigarro.
Eu vi por dentro da morte
A mão por trás do revólver
O corpo negro era o meu!
O alvo
O ponto
O gatilho!
Tem filhos?
Tem sonhos?
Família?
Bicho feito pra matar!
Chacina
Assassina e cala!
A faca, a ferro, à bala!
Morto não vai falar!
Eu vi o sangue jorrando
O sangue era o meu
Corria nas nossas veias
Gritava em nosso peito
Corria frio pelo chão!
A bala! As balas! Embala
Joga na vala, caixão!
O grito subiu o morro!
Ou resisto, ou fujo, ou morro!
Quantos corpos cabem nessa conta?
Quantas vozes, são caladas?
Quantos tiros são precisos
Pra se morrer de verdade!
Não morre, não morre nunca!
A pele, a cor e a luta
No sangue
No peito
Na voz!
Socorre o morro pede socorro!
Dandaras
Marias
Tantas, tantos
Tantas…
Marielle Franco:
Somos todos nós!
a noite
Eu
Negro.
A noite repousa sobre minha carne.
E as estrelas correm em meu sangue!
A carne que cobre meus ossos
Ossos, pro cão, do abate.
Eu
Negro.
Do morro, do beco, da favela!
Caminho em passos vigiados!
O mar ainda está revolto
É o céu ainda está fechado!
Corro…
Na mata sou filho de Oxóssi!!!
Nas ruas Iansã me guia!
Na chuva fina me lavo!
Armo meu cabelo, alto!
Fecho meu corpo à tuas energias!!
Se danço meu corpo é serpente
De fogo sob o sol que arde!
Eu
Negro por dentro e por fora!
Sou fera que faminta devora!
O dia como faz a noite!
Eu sou a noite!
Diego Oliveira dos Santos (1992) é natural de Fátima na Bahia. Tem alguns poemas publicados em livros na internet e em 2016 participou do Mapeamento da Palavra do Estado da Bahia, tendo um de seus poemas impresso com o pseudônimo Di Graveto.