A janela abre-se sobre o abismo triturador de energias
E as asas do mostrengo atravessam o espaço negro do nada
Que se projeta numa suspensa estrada
Na escuridão do tempo formador de estátuas graníticas
Intrespassáveis inalcançáveis megalíticas
Uma virose em forma de cruz pedestre
Provoca a floração das cores
Nas fissuras entreabertas ao sol
Encadeado pelo rastilho cósmico que desenha
A poeira do transitório da lava multimodelar
Incendiando multiformes
Indiferente ao pequeno e enorme
Ao inerte e ao andante inconstante
Os homens fecharam-se entre paredes em quadrado
Porque as coisas só assim pensavam que se encaixavam
E esqueceram o círculo a parábola
O ninho de proveniência temporal
Mantiveram as mentes no capcioso real
E não deslizando entre cidades alcandoradas
Permaneceram petrificados
Numa mistura de pó e vento
Sem dinâmica sem vida sem alento
E a visão do coração fechou-se
A porta da vastidão trancou-se
E o homem pintou o quadro a óleo da sua extinção
Nunca alcançando a derradeira dimensão
Ana Maria Rodrigues Oliveira nasceu em 1960, é portuguesa, de Alto Alentejo no distrito de Portalegre e concelho de Castelo de Vide, formada em Filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa. Publicou o livro de poesia Grito de liberdade (Corpos Editora, 2008) e participou no mesmo ano das coletâneas A arte pela escrita e Poemas sem fronteiras. Publica em http://paula-esperar.blogspot.pt/