cinco poemas de Lázara Papandrea

1.

Não se trata de elefantes e formigas,
meu amor.
A sombra é sem tamanho só quando
em plena luz.
Quando não se vai ao fundo
qualquer lugar é razoável.
Não corramos o risco do ingênuo abismo
Nem sempre a ponte se faz necessária
O risco é relâmpago em noite de lua.
São seis da tarde.
Lobos rondam a varanda.
Experimenta o girassol.

2.

Teus olhos sobre a mesa
em retalhos de macabros azuis.
A flor do silêncio
Em náusea profunda.
Nossa pele de gado marcada
A fogo e fadiga.
O liberalismo a comer-nos os rins com mexerica
Para disfarçar o cheiro podre da inocência.
São em dólares os sonhos
— e eu perdi o último esta noite, para uma desfaçatez —
Ninguém para dizer que a fuga não inocenta o mundo.
Ninguém para te dizer que tens o corpo em fatias.
Tudo é pecado
Tudo é vetado
Tudo é mercado
Eros te desconhece
Eros nos desconhece
Resta-nos baco e o bafo desta noite sem fim onde ainda caos de estrelas nos acalentam.

3.

gosto do anjo pornográfico
a cabeça dura
o peito magro
uma abotoadura nas asas
e outra nas ancas
dançando todas as cirandas que lhe são permitidas!

4.

Sonhei que Riobaldo dizia a Diadorim: O coração, Diadorim, é o olho do pecado. É ele que vê de dentro a sangria, que sabe a nuvem, a poeira e o suor. É ele que mesmo quando sujo e assombrado adentra com as próprias pernas a casa da perdição, para daí se embrenhar em matagal sem fim. A única maneira de amansá-lo, o único chamamento, é a cantoria, Diadorim, a cantoria!

5.

rio do riso
do frouxo riso
dos mortais
e rio ainda mais
do riso que engole a flor
e quanto mais rio,
maior a minha gula!
mais este roxo-frouxo-riso
me estrangula!

Lázara Papandrea, natural de Pouso Alegre-MG, publicou Tudo é beija-Flor (Ed. Penalux, 2016). Escreve no blog vestes & palavras.