luz
vamos agora
que esta luz está boa
este dia de nuvens
melhor que o sol
estourado
este dia azul
mais que amarelo
vamos que é agora
esta foto
para a posteridade
mais que nós mesmos
podemos saber
se nem estivermos
mais juntos
nela, estaremos
nenhuma fotografia
se mede
em segundos
jaz
teremos sempre
— de novo —
avós bisavós tios
mãe e pai
enquanto cultivarmos
nossos álbuns
de fotografias
menos duas
sete irmãos
e irmãs
quase abraçados
tímidos no ato
da fotografia
meio posados
meio não
muito limpos
em suas roupas
bem passadas
cinco moças
dois rapagões
orgulhosos de suas
calças suspensas
sete irmãos e irmãs
na fotografia
em cima do piano
as duas irmãs —
mortas em acidentes —
continuam limpas
e desafiadoras
sobre o negro
piano fechado
os demais
irreversivelmente
envelhecem
prenhez
estava grávida
naquela foto
o filho
não chegou
a nascer
a foto
nos mantém
à sua espera
| poemas do livro Álbum (Relicário Edições, 2018). |
Ana Elisa Ribeiro, 1975, é mineira de Belo Horizonte. Autora de Poesinha (BH, Pandora, 1997), Perversa (SP, Ciência do Acidente, 2002); Fresta por onde olhar (BH, InterDitado, 2008), Anzol de pescar infernos (SP, Patuá, 2013), Xadrez (BH, Scriptum, 2015), Marmelada (BH, Coleção Leve um Livro, com Bruno Brum, 2015), Por um triz (BH, RHJ, 2016). Além desses livros de poesia, tem outros de crônica, conto e infantojuvenis publicados por diversas editoras brasileiras. Participou de antologias, revistas e jornais no Brasil, em Portugal, na França, no México, na Colômbia e nos Estados Unidos. É doutora em Linguística Aplicada pela UFMG, professora e pesquisadora de Edição no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.