tesão substantivo feminino, poemas de Sofia Vietchie

Um puta medo,
esta puta tesão:

Errada

Agora tenho uma pasta
no meu computador
(velho)
com teu nome
(feio).

Agora tenho tesão
no teu texto.

— Que fase.

Incerta

Agora tenho tesão nos pelos do teu braço,
na tua mão quando pegas a caneta do bolso
e nos teus dedos quando seguras os óculos
(as unhas impecáveis).

Imagino-a pegando a minha bunda,
depois dos cabelos.

Imagino-os tocando a minha vulva,
depois dos mamilos.

Imagino os pelos dos teus braços nas minhas costas,
depois sobre meus seios.

Exatamente assim: me penetrando
e me dando bronca no ouvido.

Correta

A tesão agora é na tua boca e nos teus olhos,
nos lábios carnudo-finos da boca pequena,
nos olhos vivos sob as sobrancelhas pretas.

Não é por que sejas bonito:

é porque me imagino te vendo de cima,
tua língua, tua boca, que já não vejo,
mas cujo desenho sei
de cor;

é porque me imagino te vendo de cima,
os fios raros da tua cabeça que já não evito
tocar e pego e seguro
com as duas mãos.

É porque te imagino me vendo de baixo,
teus olhos, como quando pensas,
para conferir já fora de ti
o intangível.

É porque tento fugir da boca que avança,
com ainda mais voracidade a cada fuga,
mãos nas nádegas, prevendo
minha falta

de saída,

é porque espremida entre a cabeceira e a imagem
agarro-me ao travesseiro que primeiro encontro
e deixo fluir o mel que soubeste
extrair,

entre minhas pernas,

ausente.

Concreta

Eu estava perdida
nos pelos bem pretos do teu braço direito,
tua pele bem branquinha mais macia que a minha,
em contraste com a madeira da mesa.

— Deusa, que bonito…

Eu pensava,
quando vi:
aquelas três pintinhas,
sob o pelo preto,
sobre a pele branca.

Arrepiei,
quis beijar as três pintinhas,
tua mão,
tua boca,
teus olhos.

Se assentisses, eu continuaria:
no teu colo, de frente:
tua orelha,
teu pescoço,
teu peito.

(Como são teus pelos ali?)

Aos teus pés, eu louvaria o que em mim é falta:
teu pau duro
eu beijaria,
com carinho,
com dedinhos,
até o fim.

Não é porque sejas bonito,
não és;
és gostoso, como o diabo
gosta.

| extraído do livro Ela está no bolso e escrito sob o efeito do doce e dele. |

Sofia Vietchie nasceu numa aldeia onde passeava de bicicleta por aleias de areia, mas sempre foi atraída pela cidade grande. Escreve poesia descabeçada quando não tem outro jeito, quando não dá para disfarçar o lirismo ou precisa sublimar desejos tão inconfessáveis quanto impossíveis. Os poemas vieram em sonho, mas foram lapidados para a revista gueto.