mulher, poema de Rita Maria Kalinovski

não era casa
mas tapera.
o uivo do vento
vinha do inferno
e passava pelos buracos.
o sol inclemente
de cima se jogava inteiro
na única peça.
ela em trapos vestida
não enfeitava em nada
o espaço conseguido.
com o quinto fruto
da violência na barriga
sequer pensava
em como-mudar-essa-vida.
acostumada a nada receber
sabia que desejar
não muda nada.
mas fazia da vida
nem uma luta
não ansiava
apenas olhava
e esperava.

Rita Maria Kalinovski é curitibana e autora de Aonde vai o que eu sinto (Editora Dimensão), A chacoalhada no céu (Editora Dimensão), Por um Triz — Poemas minimalistas (edição independente), entre outros.