1. Para começar, conta um pouco sobre a história do romance O incêndio.
O livro conta a história de uma biblioteca pública que está prestes a ser incendiada por uma prefeitura que decide cortar gastos com a cultura. Para não fechá-la de forma arbitrária, e não correr o risco de ser tomado por fascista, o poder público toca fogo no prédio. Quem conta o caso é o bibliotecário quixotesco do lugar.
Se pensarmos na história mundial dos livros e das bibliotecas, muitas foram incendiadas. Algumas, talvez, desse mesmo modo. No começo do ano, fiz leitura de trechos da história no salão do Livro de Paris (França) e uma pessoa veio me dizer que um de seus professores da Sorbonne pesquisa bibliotecas incendiadas ao redor do mundo. Há várias, ela me disse. Na França mesmo, que é o país da cultura e dos livros, há vários casos.
2. Como costuma ser seu processo de criação?
No caso deste livro, a história surgiu após uma visita à biblioteca da cidade em que nasci, em Pinhal (SP). O lugar estava decadente, com livros esfarelando, prateleiras tomadas por cupins, ninhos de pombas. Passei parte da infância nesse lugar. Então o livro é uma homenagem ao espaço e seus funcionários. Em linhas gerais, o livro surgiu assim. Cada um surge de uma forma própria. Quando tenho o tema de um livro, aí é sentar (e transpirar) para escrevê-lo.
3. E como foi o processo de criação com O incêndio? Precisou realizar muitas pesquisas para escrever este romance?
Algumas pesquisas. O conto “A biblioteca de Babel”, de Jorge Luis Borges, por exemplo, é um dos pontos de partida deste romance. Mas não sou um escritor de muitas pesquisas direcionadas à criação de livros. Gosto de ler e isso acaba, de alguma forma, entrando na minha escrita.
4. Já tem um novo projeto em mente? Qual é? Ou costuma dar um intervalo na escrita entre um livro e outro?
Tenho um volume pronto de histórias gastronômicas brasileiras. É um misto de livro de contos, com bastante história oral, e antropologia. Este projeto surgiu de uma visita que fiz a uma tribo indígena e permanece inédito. Foi prazeroso escrevê-lo. Quando o acabei, percebi que é um livro útil sobre cultura tradicional brasileira.
5. O que você diria para quem está começando a escrever? Por que você começou a escrever?
Se este for o desejo, a pessoa deve continuar. A escrita é algo democrático, se penso apenas na parte prática. O candidato a escritor precisa somente de papel e caneta ou de um computador e energia elétrica. Mas escrever é um trabalho de louco. É preciso investir muito tempo. E escrever talvez nem seja a parte mais difícil na vida de um escritor. Talvez publicar seja mais.
Comecei a escrever porque era meio deslocado no ambiente da escola, entre os colegas. Acabei me voltando às páginas dos livros. Daí deu um desejo incontrolável de esboçar algo na linha dos autores da minha infância… Lygia Fagundes Telles, José Mauro de Vasconcelos, Marques Rebelo, Fernando Sabino.
Alexandre Staut é o idealizador do site São Paulo Review e autor do livro Paris-Brest.
O primeiro capítulo do romance O incêndio (Folhas de Relva Edições, 2018) saiu na revista gueto no dia 10 de abril, você pode ler aqui: [link]
O lançamento acontece no dia 7 de maio, no Bar Balcão, em São Paulo, a partir das 19h. Endereço: Rua Dr. Melo Alves, 150. Jardins, São Paulo. Evento no Facebook: [link]