quatro poemas de Regina Celi Mendes Pereira

tributo a wittgenstein
“os limites de minha linguagem são os limites de do meu mundo”

visto o mundo
com os olhos
de minhas palavras

o mundo que dispo
não é o que te veste

equilibro
o tênue traço da palavra
sitiando desertos
revelando oásis

no mesmo mundo que vivemos
o meu céu madruga
teu sol poente

nos encontraremos,
sempre,
na língua,
nos abraços das esquinas.

divã

metaforizei todos os medos
em insetos kafkianos
mas não os comi, Clarice.

organizei-os numa fila
uma seleção não natural
[Darwin que me perdoe]
só os antipáticos

da barata ao odioso do egito
colorida filogenia
todos emparedados
a pedir clemência.

eliminá-los agora
é só uma questão
de qual melhor inseticida
não mais de consciência.

feitiço

duvidaram
de sua magia

pecaram.

foi quando
de uma brisa
tirou um fio de vento
e costurou uma tormenta

inclemente, que só ela
não teve reza nem apelo
que estancasse
a sangria.

s/título

o coiote de Chagall
come caramelo
mas fareja
humanos

se não há saídas
porhighways

fugir
por desfiladeiros
iluminados
com anéis de vagalumes.

Regina Celi Mendes Pereira nasceu em João Pessoa, em 1963. É professora da Universidade Federal da Paraíba, pesquisadora do CNPq, editora da Revista Prolíngua e coordenadora da sub-sede da Cátedra Unesco em Leitura e Escritura. Suas publicações em livros e revistas são todas acadêmicas, em Linguística Aplicada, mas já publicou alguns poemas no blog Zonadapalavra, na Mallarmargens, no suplemento literário Correio das Artes, na Germina e na revista digital Literatura e Fechadura.