1.
não é esse mundo que eu abro para deixar passar o sol
essa estrela imaginária que entre os nossos dedos diz:
para sempre, para trás e para a frente,*
o tempo tem essa virtude feliz de
caminhar voltado para a paisagem
não é esse mundo ou talvez seja:
nada é mais distante ou mais perto
do que um mundo sendo tudo e sendo
quase nada
[um rasto iluminando a maré.
2.
tudo é caminho e chão**
neste pequeno verso:
tenho medo de atravessar a rua
ou escrever com altivez
que já sei provar da memória
todo o amor e todo o atrevimento
tenho toda essa certeza
que faz o olhar pertencer
ou morrer de uma palavra,
gravidez
ou pequena-morte-de-vida,
não importa:
só sei nascer do mar.
| do livro maré, por editar |
Jorge Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, e desde cedo se interessou por poesia. Com Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direcção editorial da revista online Incomunidade. Tem quatro livros publicados, sendo o último noite que abre (voltad’mar: 2016).
*excerto de um poema de Ema Inácio.
**Excerto de “não quero que vás à monda”, da Ronda dos Quatro Caminhos.