gestos de revolta (pra sair da depressão):
— escrever um poema numa língua que não existe e transcriá-lo na língua do pê.
— fazer um desenho com um lápis sem ponta.
— assoviar uma música de trás pra frente.
— fazer um sanduíche pro seu amor, sem pão, sem recheio e tascar-lhe um beijo na boca.
— abraçar um pé de vento.
— namorar um pé de cabra.
— assumir de vez sua identidade secreta de pepe legal.
— abraçar a seiva de um hibisco.
— retirar seu nome do abecedário.
— dançar com o guarda e com o gari.
— convidar todos os mendigos bêbados para um forró em frente às casas bahia.
— vomitar no inovidável.
— transcrever o que o lula está pensando agora no cárcere enquanto prepara a revolução.
passei o fim de semana paralizzzzado
Passei o fim de semana paralizzzzado. Vontade de nada. O império botou nosso gigante de castigo. O cara fora da curva. O que nasce pra ser assim: um defeito de fabricação na ordem do mundo. Uma aberração, uma anomalia.
Demorou. Mas o sistema financeiro internacional conseguiu enjaular o maestro. Assim foi com Mandela, Malcolm X e tantos outros desviantes. Mas para cada Lula q prendem, cada Marielle que matam, aparecem outros, muitos mais.
E nós? E cada um de nós, o q fazer? Sair da letargia, colocando um pé depois do outro. Ir à praia, caminhar. Pega um sol. As lutas se travam no corpo. A sociedade de controle, o sistema neoliberal, quer vc dentro do tempo do mercado, do tempo da produção, do trabalho. Um corpo subserviente, débil e dócil. Acomodado, acovardado. Um corpo arregado, com o rabo entre as pernas.
Quebra esse relógio assassino, vitaliza seu corpo. Se mexe. Vai pra rua. Se junta às pessoas. Bota a boca no mundo. Revolte-se. Isso é merecer Lula. Isso é viver.
os novos jesuítas
a equipe de filmagem chega à aldeia indígena
eles tem pouco tempo
o superstar protagonista
tem compromissos inadiáveis
eles levam a palavra-tempo do mercado
supremo deus da era eletrônica
os índios olham para aquilo
como são olhados quando chegam à cidade
a equipe de filmagem quer suas almas
(suas terras o agronegócio está levando)
para vender como conteúdo/entretenimento
para a atrofia do cérebro.
são jesuítas desse tempo mercado
entendam, caráleo,
que outros mundos são possíveis
deixem o mato crescer em paz.
fuck you!
Ricardo Chacal é poeta e letrista brasileiro e diretor do CEP 20.000.