do tiro, de Wanda Monteiro
antes fosse o destino de uma guerra
mas é o tiro do escárnio
o que atinge a face da fome
a fome deitada sobre calçadas
a fome acolhida por fétidas marquises
a fome secando nos seios de uma pietá
na casca do andrajo
uma pietá feita de infortúnios
à espera de um deus
no acalanto de seus braços
a fome do filho
atira seu silêncio
no vazio da indiferença
assim, feito corrente, de Tiago D. Oliveira
deitaram ao chão
a moça vendada
de espada na mão.
deitaram-na ainda
incrédula
nos braços dados,
cédula,
entregues
na correnteza — ó:
não houve canção, nem
corações abertos, só
o silêncio a espreitar
antes do golpe final.
deitada ainda, a arfar,
como quem quisesse
perdoar o mal,
[manequeísmo quase
ficcional] rompante,
seu grito teceu
o véu da liberdade —
E agora, José?
s/título, de Jean Sartief
Não há Fake News
No sangue jorrando nas ruas.
questão de ordem, de Jean Sartief
A única questão de ordem
É desligar a tv.
É unir-se
Depois de tantos cacos.
Depois de tantos partos.
Depois de tantos golpes.
A única questão de ordem
É amar e lutar
Porque sem amor não há luta que valha
Sem luta não há amor que resista.