cinco poemas de Rafaela Ferrari

I.
Se do meu púbis nascessem asas, talvez esse peso no colo também aprendesse a voar,
talvez a necessidade de preenchimento com algo que molda meus pensamentos místicos necessitasse de
somente mais um livro mítico para recuperar
esse vazio
essa completude de bebidas alcoólicas e fumaça enquanto fecho os olhos , e minha existência se
resume a apenas um mexer da alma na caixa craniana, como se nem a gota mais pesada de chuva
pudesse matar a sede
do púbis
sem luz
mas com esperança

II.
o peso no peito na penumbra do quarto
o vestígio do vento nas veias
na minha orelha
no lago
O do ré mi fa das partículas subatômicas
nem a mais doce rosa de Hiroshima saberá cantar o adeus à pátria

III.
Entre vidas e vindas
Descubro que a partida é a mais rápida das mortes
aos quarenta não sou
aos quarenta serei
mais pó do que hoje me descubro ser

IV.
gravidade igual empuxo
me encontro flutuando em mim mesma
pernas e braços algemados unicamente ao meu próprio ser
apnéia em minha própria consciência, que me afoga
que me sustenta
que me prende
que me algema
que me proíbe de conhecer o infinito pó das estrelas numa tentativa de conhecer o finito pó do eu.
Às pressas nado
em mim

V.
As lágrimas caem
Talvez porque até elas não queiram mais sua presença
Então levam consigo uma bolsa de tempero que tem fim em uma colher de metal
Para acabar em nós novamente, até nos tornarmos cheios de lágrimas refugiadas
que retornam eternamente para a terra de ninguém;
Talvez isso que signifique o valsar eterno de uma sinfonia de mãos dadas

Rafaela Ferrari cursa Relações Internacionais na Universidade de Brasília, é natural de São Paulo e participou de um curso para jovens escritores (CLIPE) da Casa das Rosas.