Eu queria mesmo era.
O senhor sabe o que é viver sem?
Gostava era de não precisar mais ter que.
Queria era ser igual.
Queria era ser.
Queria era.
Queria — ser.
Ora, por que é preciso ter?
Triste isso de ter que.
Sempre ter que.
Sempre ter.
Sempre.
Sempre?
E se eu parasse de?
E se eu parasse?
E se eu?
E se?
E?
Gostava mesmo era de ser igual.
____________________De ser igual.
E ponto.
Gostava mesmo.
____________________De ser igual.
Ponto.
E se desse para escolher?
Gostava mesmo era de poder escolher.
Gostava mesmo era de poder.
Gostava mesmo – de poder.
Escolher.
E se eu quisesse?
O que aconteceria se eu quisesse?
E se eu quisesse apenasmente querer.
____________________Apenasmente querer.
Eu gostava de apenasmente querer.
Eu gostava de apenasmente.
Apenasmente – eu gostava.
Gostava de apenasmente gostar de.
____________________Apenasmente gostar de.
E se desse, também gostava de poder gostar daquele outro.
____________________Gostava de poder gostar daquele outro.
E daquele outro jeito de gostar de — também.
Se desse.
Mas…
Se desse eu gostava.
Cansado de ter que.
Ter que ser o.
Ter que ser o é o ó.
Se desse para parar no meio da.
Se desse eu parav.
No mei.
Se desse para abandonar o barco no meio do.
Se desse para abandonar o.
No meio do.
Se desse para saltar do.
Bem do alto do.
No meio da.
Triste isso de viver pela met.
Como se faltassem p_da_os.
Difícil isso de ter que se en-cai-xar.
Cláudio B. Carlos é poeta da nulidade, filósofo do nada, cantor de cabaré, patafísico e editor de livros marginais. Nasceu em 22 de janeiro de 1971, em São Sepé, RS. Tem diversos livros publicados. Vive em Belo Horizonte, MG.